Rogério Sganzerla foi um mestre do cinema nacional. Estreou como diretor de longas com “O Bandido da Luz Vermelha” (até hoje considerado peça fundamental do cinema brasileiro e muito conhecido fora do país e que ganhou uma sequência ano passado: “Luz das Trevas – A Volta do Bandido da Luz Vermelha”), com apenas 22 anos de idade, qualificado como “um faroeste no Terceiro Mundo”. Todavia, deixemos esse trabalho de lado (e para uma próxima postagem) e falemos de seu último filme: “O Signo do Caos” de 2003, estrelado por Camila Pitanga, Djin Sganzerla, Helena Ignez, entre outros.
Na alfândega do Rio de Janeiro chega um material cinematográfico que será analisado pelo Dr. Amnésio, um agente da censura que quer a todo custo acabar com a memória do cinema brasileiro. Dividido em duas partes, partimos da homenagem a Orson Welles e chegamos até o ‘cinema perfeito e maquiado’, ao estilo hollywoodiano.
“O Signo do Caos” é uma crítica entre a arte e a indústria cinematográfica brasileira. Tratando de maneira visceral e trazendo a tela pontos irrelevantes sobre o desenvolvimento de produções (refletindo a própria situação do filme, que demorou sete anos para ser finalizado). A tal indústria cultural. Mesclando uma homenagem escancarada a Orson Welles. Irônico e sádico, duas palavras que transbordam de maneira memorável ao ouvirmos sentenças como: “Contam coisas maravilhosas em tecnicolor”. Existe a rejeição de fazer um filme padrão sobre desgraças ou maravilhas brasileiras, existe um não-filme. Sem musas ou heróis. Existem os vilões poderosos que não entendem o significado de um filme, a força que a película têm, a existência do pensar dentro da sétima arte. São rejeitados todos os filmes que não trazem belezas.
Nos planos onde a possível musa Djin Sganzerla aparece, ela é ignorada pelos seus companheiros restando como única opção quebrar a quarta parede e seduzir aqueles que buscam respostas nos fotogramas. Nós espectadores. Como diria o próprio Rogério: ” O cinema não me interessa, mas a profecia”. A mensagem, não os enquadramentos. A força de sua montagem explícita para fazer nós espectadores estarmos atentos a cada fotograma (ou a cada 26).
Não podemos deixar nossas profecias serem tomadas por uma indústria, seguindo a inércia de um cinema comercial. A tal da indústria cultural. E a mensagem se repete e garanto que não vai sumir, porque é um grito sobre todo o cinema, ou nosso cinema ou nossa cultura, a de todos. A tal da indústria cultural. Não dominamos a arte, quando a deixarmos fluir, quem sabe não cometeremos suicídio cinematográfico e renasceremos mais fortes.
Infelizmente, como muitos casos no cenário nacional, os filmes são de difícil acesso e temos que contar com o Canal Brasil para podermos apreciá-los.