Há algum tempo atrás, eu acompanhei fielmente no site The Script Lab, uma série de posts  do Randal Stevens sobre os sete pecados capitais na hora de escrever um roteiro, ou melhor dizendo, como a existência de cada um deles pode se tornar um problema para um roteirista. Todo artigo começava do mesmo jeito: “Séculos atrás, algum cara que viveu sozinho no deserto criou os sete pecados capitais para justificar sua importância na Igreja. Agora, eu resolvi criar as consequências dos sete pecados capitais para justificar (talvez futilmente) minha importância nesse blog. As conseqüências dos sete pecados capitais são iguais aos pecados, apenas com a diferença que elas não são ações, mas sim reações”.

Os textos falavam sobre algumas regras, detalhes e cuidados que o roteirista deve ter, mas o que tornava a leitura interessante era o fato do Stevens usar uma escrita muito bem humorada, sem ser didático e muito menos empregar regras autoritárias. Quando me deparava com esses artigos, era o meu momento de relaxar e rir das situações que um roteirista passa. Aliás, não só o roteirista, mas eu passei a sentir que esses pecados também perseguiam os autores de outros formatos e leitores em geral. Fiquei muito tempo pensando sobre isso e eis que, Anos-Luz Depois, quero dividir essas divagações com vocês para justificar (talvez futilmente) a importância dessa coluna. A ideia aqui é focar o assunto no universo do leitor com alguns desses pecados.

Pra começar, claro, talvez a maior inimiga do leitor – A preguiça. Preguiça de ler um livro de mais de 200 páginas, ou de ler de noite. Preguiça de livro que tem folha de jornal ou que ainda não foi traduzido. Preguiça por falta de tempo e preguiça por preguiça mesmo. As desculpas para não ler, ou não adquirir um ritmo de leitura são muitas e até mesmo aquele leitor mais apaixonado não consegue escapar dela às vezes. Ok, ler por obrigação não é nada prazeroso e você vai achar outras coisas pra fazer como prioridade sempre que isso acontecer. O fundamental é não tornar a leitura um fardo ou castigo. Já é um belo início, não? “Ai meu Deus, Dindii, mas como eu faço isso?” Ache assuntos que te interessam, que tal?

Tudo bem, vamos supor agora que você já lê algo que te interessa e mesmo assim a preguiça ainda está ali. Um dia ou outro de folga é entendível, mas não deixe isso tomar conta de você. Um pouco de disciplina é necessário sim. É a mesma coisa que comer comida congelada porque dá menos trabalho: Você pode comê-la eventualmente, mas, a não ser que você queira virar um hipopótamo encalhado no sofá da sala, você precisa se controlar.

Mas esse assunto de comida leva a um segundo pecado – A gula. Ah, então você é do tipo que quer ler quatro livros de uma vez? Você vai la na livraria, todo pomposo, compra a edição especial luxo do Guia do Mochileiro das Galáxias e a edição golden plus da obra completa de Isaac Asimov, quer ler tudo ao mesmo tempo e acaba não conseguindo entender absolutamente nada? Ou pior: Acaba achando que o Marvin vai aparecer a tempo da crise da Fundação e que um Gerador de Improbabilidade fez com que parte da humanidade fosse parar em Terminus.

É amigo, você está confundindo as narrativas e agindo de forma bem ingênua ao achar que pode conduzir as coisas assim. Tudo bem, eu te entendo. Livros podem ser tentadores e não é muito difícil passar da conta, principalmente hoje, que podemos ter acesso a e-books, sites de autores e tantas outras formas de informação. O negócio é surtar de felicidade sim com os seus livros novos e talvez até tentar ler tudo ao mesmo tempo, mas também perceber qual é o seu limite e quanto você está aproveitando cada narrativa. A percepção é essencial para encontrar o limite.

Ao contrário do leitor guloso, existe o leitor avarento. Ele não pode comprar nenhum livro, porque todos são caros e supérfluos. Muitas vezes, esse ai é um preguiçoso disfarçado. Como já disse anteriormente, o acesso à leitura se torna cada vez mais fácil e não é nada complicado conseguir e-books de graça hoje em dia. Além disso, outra solução são os pocket books e livros impressos em página de jornal. Tudo bem, livros poderiam ser mais baratos (assim como um monte de coisas. Meu salário agradeceria imensamente), mas existem soluções.

Enfim, esses foram três dos sete pecados que podem acompanhar os leitores. No próximo “Anos-Luz Depois” eu falo dos outros, isso, é claro, se a luxúria, ira, soberba ou inveja não me consumirem demais durante este mês. Enquanto isso, vocês podem relembrar um artigo publicado no início do ano passado sobre os sete pecados capitais. A Kika organizou os posts, que foram feitos a partir de discussões no Fórum Meia Palavra e falavam sobre personagens da literatura que carregavam o pecado da avareza.

DISCUTA ESSE ARTIGO NO FÓRUM MEIA PALAVRA