Por muito tempo a sociedade brasileira renegou ou fugiu de seu passado cultural afro-descendentes. Faltava espaço para que a cultura do continente africano fosse exposta de diversas formas e meios. Os quadrinhos nacionais, já meio que marginalizados ou subdivididos, não mostravam ser o melhor ambiente para tentar essa divulgação, porém o escritor Alex Mir e o ilustrador Caio Majado, junto com a editora Marco Zero, acreditaram que as HQs também podem abrir suas páginas para esse legado tão antigo quanto a mitologia “caucasiana” ensinada nas escolas. O resultado da credulidade dos três é a surpreendente HQ Orixás.

Lançado no início de 2011, a HQ é uma reunião dos principais contos mitológicos que formam a base para a cultural dos Orixás. As histórias são contadas de uma forma “crescente”, ajudando o leitor no entendimento do processo criacionista da religião que cultua entidades como Oxum, Ogum, Iemanjá e Oxossi. A HQ aborda desde o mito da criação dos mundos e dos deuses, passando pela criação do homem, até chegar na cisão do mundo espiritual com o mundo real, que fazem parte do título – Orum e Ayê.

O resultado dessa integração dos contos é muito parecida com projetos onde a intenção é ilustrar passagens da bíblias. No fim Orixás se mostra uma HQ bem simples e sem grandes pretensões polêmicas, apesar de tocar num assunto que infelizmente ainda é tabu em alguns círculos sociais.

O tratamento do texto e a forma neutra que ele assume ao se posicionar nas questões histórico religiosas é um incentivo a leitores não religiosos, que tem uma tendência a fugir de qualquer publicação que esbarre no tema. A arte, com traços modernos e arrojados, às vezes complica na ambientação do que está sendo descrito, mais pelo fato de que a mente associa a “religião e mitologia” a desenhos mais clássicos do que por falta de talento.

Adquiri minha cópia em uma mega store de livros, porém acredito que Orixás – Do Orum ao Ayê pode ser facilmente encontrado em lojas menores, especializadas em quadrinhos ou através do próprio site da editora. O importante é saber que ao comprar a HQ, você vai estar contribuindo não só com o crescimento cultural, também pode estar ampliando horizontes pessoais.

Sobre o autor: Sem títulos à ostentar, o Breno largou duas faculdades e gastou seu tempo lendo HQs. Hoje tenta escrever para o Artilharia Cultural, Vortex Cultural e (quando dá) Meia Palavra. Pode ser encontrado também no @brenocs.

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