Álfgrimmur Hansson nasceu em Brekkukot, propriedade do pescador Björn de Brekkukot. Uma espécie de pensão, a casa de Björn e sua esposa costuma abrigar viajantes em caráter temporário e alguns indivíduos permanentemente. Certo dia uma jovem – cuja passagem para a América havia sido paga pelos mórmons – deu a luz ali e abandonou seu filho aos cuidados dos donos da casa. Essa criança cresceu e tornou-se Álfgrimmur, nome decidido conjuntamente pela mãe e pela esposa do pescador, quem o menino chamaria de avó quando aprendesse a falar.

E foi assim que começou a vida do protagonista da novela The fish can sing, escrita por Halldór Laxness, quiçá o escritor mais celebrado da Islândia. Vencedor do Nobel, Laxness foi, durante sua longa vida, cristão fervoroso e comunista convicto. Apesar dessas reviravoltas, foi uma reverência pela natureza, misturada aos valores morais que sua avó lhe instilou – nunca machucar uma criatura viva, colocar os pobres, os humildes e os fracos acima de todos os outros, e nunca esquecer aqueles que foram abandonados ou que sofreram alguma injustiça – que prevaleceram durante sua vida e que surgem na maior parte da sua obra.

Em The fish can sing vemos como Álfgrimmur deixa de ser um menino para tornar – se um homem. Na casa de seus avós – onde dividia espaço com figuras um tanto quanto peculiares – vive em um mundo um tanto quanto idílico, onde pode discutir sobre o mar, sobre os peixes, sobre a eternidade e sobre o valor da bíblia. Isso tudo, porém, deve acabar quando Gardar Hólm, o maior cantor de toda a Islândia, volta para o lugar de sua infância e encontra o garoto, que, segundo ele, pode cantar a nota verdadeira. Para que isso se concretize, porém, é preciso abandonar Brekkukot.

Sendo uma novela, o livro é mais curto e geralmente considerado menos importante que obras como O sino da islândia ou mesmo A estação atômica, mas nem por isso deixa de ser genial: utiliza da particularidade de Álfgrimmur para explorar os ritos de passagem da própria Islândia para a modernidade. E isso com uma sensibilidade que não chega a ser sentimentalista, pois é temperada com um humor irônico, uma hilariedade absurda.

The fish can sing, infelizmente, é um dos livros do autor que não possui tradução para o português. Mas está disponível em inglês e, provavelmente, em francês e alemão também. Uma obra curta, de leitura rápida e agradável, e que mostra que a Islândia é muito mais do que (os excelentes) Björk e Sigur Rós.

DISCUTA ESSE ARTIGO NO FORUM MEIA PALAVRA