Como alguns leitores do blog ainda não sabem, conto-lhes agora: estou de férias da função de editor desse espaço para cursar aulas de cinema na New York Film Academy (sim, a minha formação é no audiovisual, não precisam perguntar que esclareço). Para evitar acumular diversas coisas que poderiam tirar o foco nos estudos, resolvi realmente me afastar do Meia Palavra para não deixar ninguém na mão. Em contraponto, eu não consigo ficar muito longe e por isso sugeri a minha comrade Anica uma coluna semanal para contar o que rola de bom aqui – evitando um pouco daquele papo turístico que aparecem em programas do gênero e só nos deixam com água na boca, ou na pior das hipóteses, com preguiça de conhecer o lugar.

Primeiro de tudo, a viagem foi OK. Companhia OK, comida OK. Tudo nos OK. E o fuso não atrapalha muito. Uma hora de diferença não é nada. Essa é a segunda vez que venho para cá, a primeira ocorreu em 2008 quando passei as festas de fim de ano nessa cidade que respira mobilidade, diversividade e muita coisa misturada – de pessoas diferentes, a gostos diferentes, a culturas diferentes, etc.

Como todo brasileiro, tenho conhecidos na cidade, alguns legais outros ilegais, e é sempre por eles que devemos começar essas tais visitas. Encontrar essas pessoas tem suas vantagens, elas te ensinam de maneira prática, no seu idioma, como usar o metrô daqui – evitando pegar linhas expressas ou trens errados – e como economizar com coisas simples, de metrocard a cerveja, de restaurantes a hot dogs. Nessa empreitada brazuca acabei indo longe demais. Primeiro o meu amigo das terras tupiniquins me levou a um open house cheio de brasileiros, logo não treinei meu inglês em nada desde que cheguei e em seguida fomos a uma festa brasileira, de brasileiros com… música brasileira (anedota: nada contra, mas viajar não seria respirar novos ares?).

Devido a essa experiência nacionalista, no domingo resolvi caminhar por todos os locais que minha mente lembrava da última visita para realmente conhecer e me sentir em casa, afinal estarei morando aqui por um tempo, curto, mas um tempo. Peguei o trem da linha 7 (no Queens) e fui até desembocar no ponto final – Times Square. Lá, em meio aqueles cartazes, telões, ofertas e camelôs, circulei por entre as ruas e ajudei alguns compatriotas – que não suspeitavam da minha nacionalidade – a encontrar as ruas que queriam. Outra vez entrei no metrô e me dirigi a Grand Central Station (aquela que o Ciclope, no primeiro filme dos X-Men, destrói o teto). Esse foi meu momento de crescimento. Sem um mapa, bússula e tampouco me guiando pelas estrelas (o que seria impossível na luz do dia) e desci a 42st tentando achar o Central Park (se você der uma olhada no Google, saberá que isso é uma boa caminhada). Eis que a vida me presenteou com uma rua fechada e cheia de camelôs – sim, uma 25 de Março multinacional com direito a comida mexicana, tailandesa, coreana e grega entre as barracas. Artigos falsificados, artigos originais (e de origem duvidosa) e um DJ que transformava qualquer música em uma mixtape de reggae (ouvi Michael Jackson reggae e Adele reggae).

Um detalhe ordinário, mas pertinente, é que nesse domingo específico, após anos no meu encalço, aquele narrador dentro de mim, citado umas colunas atrás, silenciou. Eu parecia um monge na busca pelo nirvana (ascensão espiritual e não o grunge), sorrindo para quem sorria e para quem encarava, mas sem dizer uma palavra e sem pensar. Talvez fosse plenitude ou realmente os pensamentos escapavam.

Durante a caminhada ao longo de 17 quadras, encontrei uma loja de colecionáveis. Grande parte das lojas estavam fechadas e era de bom grado encontrar uma com a porta aberta, e quase estourei meu limite de crédito com uma incrível aglutinação de todos os Lanternas Verdes (não a tropa, mas os nossos queridos terráqueos) desde a Era de Ouro até os a Era atual, uma réplica da lanterna que quando você aproxima o anel ela acende e outras coisas, como busto do Homem de Ferro, Superman, Supergirl e, pasmem, Edgar Alan Poe e James Joyce. Meu lado nerd delira.

Outra coisa interessante é notar o preconceito com leitores sem e-readers por aqui. Eu não trouxe meu Kindle. Gostaria de adquirir o novo modelo e os livros que tenho para ler – nota mental: sim, deixei os do Meia Palavra em casa e trouxe lição para o Gauchão de Literatura a convite da minha queridíssima Lu Thomé – não tem versões eletrônicas e mesmo que tivessem não os converteria pela falta de tempo hábil. Todavia, as pessoas no metrô me olharam torto quando abri um dos livros que devo julgar para a competição regional, não por estar em português, mas por ser impresso. Após essa pequena rejeição dos leitores novaiorquinos-metro-usuários, entrei na Barnes & Nobles (existem livrarias ainda!) e dei uma olhada no Nook – apresentado pela minha excelente amiga Diana, que ironicamente trabalha na Companhia das Letras, que cuida do selo Penguin no Brasil e que, coinciden-cretinamente, me procurou para um entrevista durante a minha visita a livraria (o video será usado no treinamento de funcionários, vai entender…).

Não sei sobre o que falarei semana que vem, afinal qualquer coisa pode acontecer durante uma viagem e mais poderão acontecer após o começo das aulas, então uma surpresa para vocês e, com certeza, para mim.