A primeira vez que eu ouvi falar de Emily Dickinson foi por puro acaso. Eu estava procurando por um poema do húngaro  Attila Joszef, e me deparei com algumas coisas dela. Um não tem nada a ver com o outro, é verdade. Mas acabou que eu achei Dickinson interessante, e anotei seu nome para mais tarde – que evidentemente nunca chegou.

Algumas semanas atrás, ao assistir o filme ‘A Escolha de Sofia’, um poema dela apareceu. Eu lembrava vagamente de ter lido aquele poema na primeira vez que me deparei com a poeta, mas lembrei vivamente do quanto ela me agradara. Pensei, mais uma vez, que deveria procurar alguma coisa dela e ler com a devida atenção.

E, mais uma vez, teria ficado por isso mesmo, o interesse vitimado pela procrastinação. Mas eis que a editora L&PM lançou esse ‘Poemas escolhidos’, uma coletânea bilíngue de algums poemas da autora norte-americana. Poemas que, segundo a introdução, não haviam sido traduzido antes.

E são escolhas particularmente felizes. Acredito que quem já conhece a obra de Dickinson vai achar a seleção interessante. Quem não a conhece, ou conhece de maneira muito vaga (como eu) tem aí um bom meio de ter um contato maior com uma das maiores poetas norte-americanas do século XIX.

Os poemas são, em sua maioria, bastante breves. Mas isso é suficiente para construir algo bastante visual, pode-se imaginar uma fotografia – ou até um curtíssimo filme – da cena que Dickinson evoca. Além disso é facilmente perceptível que tudo isso são metáforas, que significam algo mais profundo. Desta forma ela utiliza coisas singelas, como uma borboleta no Brasil, para falar sobre temas como a fugacidade do tempo, além de outros tantos temas caros aos poetas.

Quanto à tradução, feita por Ivo Bender (quem também escreveu a introdução ao livro e selecionou os poemas), é bastante boa. Uma das características mais marcantes de Dickinson parece ser a oralidade que permeia sua escrita e Bender buscou preservar isso. Trocou nomes de pássaros e plantas por outros, mais conhecidos do leitor brasileiro – outra coisa que considero louvável.

A única coisa com a qual não concordo foi a supressão dos travessões e das letras maiúsculas – que a poeta utiliza sem nenhuma parcimônia, e que o tradutor optou por suprimir. Porém, não é algo que chegue a atrapalhar na leitura dos poemas (até porque eles estão ali do lado, na versão original), e Bender justifica isso com a falta de consenso da crítica sobre isso.

Poemas escolhidos

de Emily Dickinson

tradução, seleção e introdução por Ivo Bender

128 páginas

R$ 8,00

Saiba mais sobre essa e outras obras no site da L&PM Editores