Há três meses eu decidi comprar um computador novo e optei por um desktop. A decisão  surgiu de diversos fatores que não merecem muita atenção, como configuração melhor por custo menor, a oportunidade de me deleitar com uma tela gigante, entre outras coisas, mas, principalmente, pelo fato de que eu já possuia um laptop que muito contribuía para eu ficar isolada na internet em todos os cantos possíveis, ou seja, com o desktop, eu também estava optando por um estilo de vida menos nerd sedentário e mais focado para cumprir tarefas e sair de perto da tela do computador.

Bom, dito isso, três meses se passaram e eu sou uma pessoa feliz com a opção que eu fiz. Mas então que entra um detalhe que desencadeou, anos-luz depois, minha nova teoria universal da vida. Esse detalhe consiste em uma cadeira. Isso porque o desktop exigiu que eu abrisse um novo espaço no meu quarto: desocupei uma mesa para que ele tivesse um cantinho, mas a cadeira eu teria que comprar. Provisoriamente, comecei a usar um banco de ferro sem encosto da cozinha. E é assim que até hoje eu me sento diante dele, toda desajeitada e começando a ter dores nas costas.

O fato é que eu trabalho do lado de uma loja de cadeiras para computador. Pense neste momento em uma loja de dois andares e vitrines gigantes, com todo tipo de cadeira para computador possíveis (exageros aos olhos muito frequentes na Vila Leopoldina – São Paulo). Tudo que eu tenho que fazer é dar uma escapada de meia hora do trabalho, comprar a cadeira e mandar entregarem na minha casa. É justamente essa facilidade que me faz, dia após dia, durante esses 90 dias (ou 1/4 de ano, como vocês preferirem), eu adiar a compra.

Esse evento, como disse, é ponto de partida para a minha teoria universal da [minha] vida. O fato é que eu e muita gente sofremos da Síndrome da cadeira sem encosto, que tem como preceito a velha e conhecida frase: “Por que deixar para hoje aquilo que pode ser feito amanhã?”. Isso consiste no indivíduo reconhecer a existência daquilo que ele almeja, mas, por ser algo de fácil acesso e que está sob seu controle, ele acaba por negar parcialmente a existência do objeto em questão e o substituindo por qualquer coisa mais imediata.

Um exemplo clássico são aqueles livros empoeirados na estante, que você acaba comprando outros para ler antes, ou até mesmo pegando uma revista ou simplesmente ficando entediado sem fazer nada porque “não tem nada de bom para ler”. Desde julho, por exemplo, eu estou com uma edição linda de Moby Dick para ler. Misteriosamente, já li mais de 15 livros desde então e não toquei nela. O mesmo acontece com download de e-books, esquecidos no limbo do meu antigo laptop em uma pasta de nome “leituras felizes”. E os filmes e séries? Incontáveis as vezes que acabei assistindo um documentário sobre tubarões no Discovery Channel ou mais um episódio de American Next Topmodel ao invés de andar até a locadora, comprar um filme ou ir ao cinema para ver algo que eu estivesse realmente afim.

Síndrome da cadeira sem encosto pode também ser associada ao frequente DDA Miranda July, que recebeu esse nome devido a um trecho de conto da autora que explica a doença: “Só estou viva em um a cada quatro segundos, só registro quinze minutos a cada hora.” Ou seja, os 45 minutos que a pessoa não registrou são voltados a tarefas automáticas e sem sentido. Mas é claro que essas são apenas teorias universais da minha cabeça. Nesse ano, inclusive, eu resenhei o livro do Alberto Manguel, À mesa com o Chapeleiro Maluco, que possui uma série de ensaios sobre o tema e talvez tenha contribuído para eu criar essas teorias malucas.

Enfim, 2011 está acabando e essa é minha última coluna do ano. Chega aquele momento de colocar as coisas em ordem e tirar o recesso do trabalho. É a minha oportunidade anual de por essas leituras em dia, assim como os filmes e séries. Espero que aqueles que, assim como eu, sofrem da Síndrome da cadeira sem encosto e do DDA Miranda July consigam alguns dias de foco. Me despeço do Anos-Luz Depois, com fé de estar em 2012 com uma cadeira nova.