Faz parte da “natureza” das listas serem polêmicas. Isso se dá, entre outras coisas, por conta daquela máxima – que não lembro de onde veio – de que “cada escolha é uma renúncia”. Por esse motivo, os autores de listas são obrigados a inserirem elementos e deixarem outros de lado. Em que pese a subjetividade desse autor, critérios vários orbitam em torno da feitura da lista, desde afinidades pessoais e enquadramentos nacionalistas até bairrismos e, porque não dizer, caracteres “ideologizantes” no sentido mais lato do termo.

Convenhamos, listas são motivo de controvérsia, e tendem a ser assim eternamente. Por mais que haja muita raiva e preferências pessoais em cada comentário endereçado à alguma dessas listagens, é justamente esse motivo que faz com que elas tenham esse apelo sedutor que faz com que todos, por mais anti-listas que sejam, corram os olhos pelos elementos arrolados.

Como uma espécie de “confessionário” de manias tangentes à literatura (uso as aspas porque são manias e não pecados) venho hoje falar de meu posicionamento entusiástico em relação às listas. No caso, de livros.

Não me tomem por freak, pelo menos não de antemão, conheço a natureza excludente das listas. Conheço suas limitações e o enganador verniz de plenitude que se esconde por detrás de cada afirmação “totalizante”. Não determino minhas leituras por elas, faço delas sugestões possíveis. A verdade é que as listas costumam responder mal às expectativas, ainda mais quando se fala de sujeitos tão apaixonados como costumam ser os leitores de carteirinha.

Parte dessa pecha se dá num dos pontos nevrálgicos da controvérsia: os títulos das listas. Vemos porções de listas com nomes que despertam, no mínimo, nossa desconfiança: Os 100 Melhores Livros de Todos os Tempos, Os 50 Melhores Contos Ingleses, Os 20 Personagens Mais Carismáticos e assim por diante. Esses títulos parecem esbanjar soberba, soam até pedantes – dependendo de nosso nível de tolerância. Nesse sentido, devemos relevá-los, são somente sensacionalismos eventuais ou escolhas que já se tornaram tradicionais.

Listas são subjetivas, porque são feitas por seres humanos – seres que possuem a subjetividade como sua característica intrínseca -, de modo que, antes de criticá-lo pura e simplesmente, devemos aprender a conviver e avalia-la. Uma boa maneira de lidar com isso é comparar uma lista com outras listas. Existem listas para tudo e para todos, desde 1001 Livros para Ler Antes de Morrer até os 10 Melhores Livros sobre o Sul dos Estados Unidos, por conta disso, podemos notar recorrências e repetições que indicam um valor diferenciado à alguma obra em especial.

O diálogo entre as listas mostra também como existe, ainda que de forma borrada e longínqua, uma característica universal que é comum aos assim chamados “grandes livros”. Ainda bem que não é possível sistematizá-la a ponto de torná-la mecânica, do contrário teríamos fórmulas inócuas imperando pelo universo da literatura. Mas é possível estudá-la e compreendê-la escarafunchando nas boas e velhas listas.

Ver mais do que uma listagem, enxergar os critérios subjacentes às escolhas e às renúncias é uma das atividades mais prolíficas que as listas podem proporcionar. O que faz um livro estar nessa e não naquela lista? Por que nenhuma lista tem tal livro, que eu achei tão bom? Por que essa obra consta tanto na lista de melhores romances búlgaros quanto naquela de melhores romances do século XX? Por que ele é posto em pé de igualdade com aquele romance russo do século XIX? E por que esses dois não foram dignos de figurar junto daqueles dois alemães da lista da revista X ou Y? Se desenha aí todo um exercício lastreado no centro de toda e qualquer rol de livros, romances, contos, epopeias, poesias etc.: a leitura.

As listas, salvo alguns entusiastas tacanhos – que não veem nada além delas -, na pior das hipóteses irão te proporcionar inúmeras –  costumeiramente ótimas – opções de leitura. Levando em conta todas as críticas que se deva dirigir a elas (lembre-se que esse exercício é uma das melhores partes do ato de listar), todas se baseiam – consciente ou inconscientemente – num princípio que às vezes é esquecido: o de ler. E esse está longe de ser um princípio que se deva reprovar.

Tomei a liberdade de listar as que costumo percorrer volta e meia, seja como sugestão ou como curiosidade:

1001 Livros para Ler Antes de Morrer – Peter Boxall
– 100 Melhores Romances em Língua Inglesa da Revista Time  (listagem dos títulos em português)
– 100 Melhores Thrillers de Todos os Tempos – NPR
– 100 Melhores Romances do Século XX – Folha de São Paulo
– 100 Contos Essenciais – Bravo!
– 100 Obras Essenciais da Literatura Mundial – Bravo!
– 100 Best Science Fiction and Fantasy Books – NPR
– 100 Best Science Fiction and Fantasy Books – This Recording
– 200 Melhores Livros – BBC
– 100 Livros para Ler Antes de Morrer – The Telegraph
– 100 Melhores Livros – The Guardian
– 100 Melhores Livros segundo José Mindlin
– 100 Melhores Livros de Não-Ficção – The Guardian
– 100 Melhores Romances – Modern Library