Quando começamos o projeto Meia Palavra tínhamos mais colaboradores do que artigos. A equipe era tão grande que contávamos com três pessoas apenas para revisar os minguados textos. Na minha cabeça, esse blog tinha um potencial gigante e eu queria a todo custo alcançar um nível de excelência de artigos bem escritos, de entrevistas bem feitas, de pessoas comprometidas e de reconhecimento ímpar, porque não adiantava nada criar um espaço de total conteúdo – aqui no MP é bem difícil divulgarmos notas avulsas ou pequenas notícias no lugar de resenhas – e ficarmos a ver moscas. Os anos passaram e cá estamos à beira do momento mais importante da nossa história: a cobertura de um evento de renome, conhecido pela alcunha de Flip (Festa Literária Internacional de Paraty).

A primeira vez que ouvi falar sobre a Flip foi durante um almoço. Sentado à mesa, esperando o apito do microondas, reconheci meu amigo Kim Doria no SPTV. Nunca imaginei que o aspirante a cineasta, hoje trabalhando na Boitempo Editorial, estaria em um evento no Rio de Janeiro, ainda mais um sobre literatura. Creio que era a terceira ou quarta edição. Invejei. Desde a inauguração desse espaço literário da blogsfera, tento enviar algum colaborador para, pelo menos, não deixar a semana passar em branco. Além disso as minhas idas a Paraty se deram antes por circunstâncias adversas, como resgatar um amigo que estava com suspeita de gripe suína, do que para a feira em si.

Ironicamente, cobri outros eventos e, creio eu, foram um ótimo treinamento. Mesmo com passes de imprensa e planejamento, há sempre contratempos que acabam frustrando a vontade de entrevistar alguém ou conseguir fotos muito boas. Ano passado, fiz a cobertura da New York Comic-Con para o Judão e aprendi como um crachá não te dá tantas vantagens, às vezes nenhuma. Sem contar que estava só, sem equipe de apoio e não conhecia nenhum organizador. Para cumprir o cronograma passado, corri de um lado ao outro dos estandes, saindo no meio das coletivas ou perdendo o começo dos vídeos, trailers e introduções. Na época o segundo maior alvoroço era causado pela volta de Beavis & Butt-Head na MTV americana. A algazarra era tanta que para acalmar os ânimos dos fãs, a staff distribuiu os brindes antes da sala abrir. O grande campeão da confusão entre os visitantes lá no Hell’s Kitchen era Os Vingadores. Na fila do estande houve brigas por tantos motivos que nem vale lembrar – e não deixa de ser engraçado ver um cara fantasiado de Capitão América brigar com um Homem-Aranha e presenciar um Wolverine de cinco anos de idade ser ovacionado e jogado para dentro da sala lotada.

À parte isso, impasses e correrias, também aprendi que o importante para um evento ser bem coberto é ter propriedade, é querer escrever sobre o tema sem aquele medo primário de errar ou faltar algo. Quantas vezes não encontramos textos, releases e resenhas que estão recheados com as famosas linguiças? O olhar crítico é importante em grandes eventos, mas creio que a visão de fã também deve se transpor na escrita para cativar mais leitores com gostos em comum. Sem contar que não cito como toda a expectativa consome meu corpo.

Por isso, enquanto vocês leem essa coluna, estou na porta da casa da Raq Toledo para o comboio Meia Palavra partir para Paraty e trazer tudo para todos os leitores. Como desta vez não estou sozinho – além de conhecer editores, divulgadores, blogueiros e alguns bons amigos, tenho uma equipe inteira para apoiar, escrever, fotografar e, acima de tudo, correr pelas ruas caso o alvoroço se instale na presença de Teju Cole ou nas sobrancelhas enigmáticas de Vila-Matas – posso afirmar que o Meia Palavra chegou ao ponto alto de sua história até aqui. Eu também.