Desde a criação do Meia Palavra, em 2008, uma das tradições que construímos nesses mais de 4 anos é o encontro entre equipe e simpatizantes, que começou com apenas 5 pessoas no Blue Pub, em São Paulo, há X anos e YY meses atrás. De lá para cá, fui à Curitiba (duas vezes) para ver a parte majoritária da equipe, fiz uma visita relâmpago a Porto Alegre, e o Gigio, que ainda não era da equipe, viajou até o Rio de Janeiro para encontrar a galera de lá. Todos com a desculpa de discutir literatura, acompanhados de cerveja, cachaça ou os dois. Os encontros em São Paulo se tornaram mais frequentes, agora na Mercearia São Pedro, o não tão novo point (termo que deveria voltar a ser usado agora que caiu em desuso na Malhação) literário.
Com esses encontros menos esporádicos, começaram a pipocar as figurinhas carimbadas: Gigio, Diana Passy, Raquel Toledo, Antônio Xerxenesky e eu, o arroz de festa. Não conversamos apenas sobre leituras, mas entre muitas das conversas sobre literatura, uma das que mais me chamaram atenção – e ainda chama – é a classificação “literatura bundona” ou “autor bundão” cunhada por Tony. É simples: um autor chega no seu ápice de criação e a partir daquele ponto não consegue mais ousar, permanecendo num limbo de segurança. Diferente da Síndrome de Bartleby, onde o escritor desiste de escrever, a “literatura bundona” é a tal zona de conforto daqueles que vivem da escrita.
“Como assim?” Você pode me perguntar. Oras, o que se alterou nos livros de Philip Roth nos últimos tempos? Ou Paul Auster e sua falta de culhões desde O Homem no Escuro. Jonathan Franzen e o certinho Liberdade. Vila-Matas ousou ser bundão em Dublinesca só para ver como é, afinal Ar de Dylan não é bundão. Eu poderia enumerar mais bundas-mole, mas isso me faria soar como um personagem de Os detetives selvagens, que em meio a uma festa de “poetas” fala sobre todos os poetas veados e bichas que existem. Citando um a um. Talvez Bolaño, se vivo, poderia ser fonte para os inúmeros bundões mundo afora.
Não me imaginem bufando ao lerem esse último parágrafo, falo com a calma que Paulo Coelho narraria seus e-books, aliás não pensem que esse é bundão de nascença, ele está em outra categoria que, pelo que li da resenha da Anica, se equipara à autora de Cinquenta tons de cinza.
Peço também que não confundam bundãozisse com consolidação de estilo. Se um estilo está consolidado e se ele não pode ser reinventado e subvertido, talvez seja hora de se aposentar. Esfregar-se em alguém com a Síndrome de Bartleby. Nós reconhecemos seus louros do passado e, por isso mesmo, insistimos na sua literatura atual.
E para provar que não estou mandando ninguém para o paredão, dou o direito à defesa dos bons autores: quando conversei com João Ubaldo Ribeiro, ele afirmou que sua maior inspiração é um cheque. James Ellroy disse a mesmíssima coisa durante a Flip 2011 – incluindo aí a venda de direitos de adaptação, que ele pode odiar, mas Hollywood sempre assina um cheque gordo e cheio de zerinhos. Ok, assim é compreensível a existência desses bundões literatos, talvez eles sejam pagos para isso. E quem poderia culpá-los? Fizeram sua parte e as pessoas gostaram. Ninguém mexe em time que está ganhando, até perder.
“Deem ao povo o que eles querem, mas me entreguem um bom contracheque ou voltarei aos suplementos de jornais”, já ouço um autor honestamente bundão.
Eu, aqui no Meia e especialmente lá na Mercearia São Pedro, continuo fazendo as minhas críticas sobre os autores e suas obras ovacionadas e, também, as atuais. Afinal, ainda não me deram um cheque para falar bem dos escritores e seus livros. Mas tão logo eu receber esse cheque, se o incentivo for gordo o suficiente, serei um bundão também. Pague pra ver (e ler).
eu não ligo pros bundões mais to meio paranoico com uns autores mais atuais que impregna tanto seu livro de tecnicas e inovações que esqueçe de criar uma história decente
ja se deparou com algum assim ?
adorei o texto vc mistura inforção com bom humor e sai algo otimo 😀
ops é informação
Sim, Gilberto, deparei-me e muito com autores assim. Aliás, excessos demais me enchem o saco.
O problema dos bundões é que antes de serem isso, eles eram incríveis e dava gosto de ler. Não só pelas novidades na escrita, mas a exploração dos personagens, o embate e exploração de temas. Ao meu ver, Roth e Franzen já exploraram em demasia seus temas padrões e não conseguem sair dessa zona, sem trazer algo novo ou subverter o que eles mesmos criaram anteriormente.
me senti assim ao ler cony ( carlos heitor cony) o primeiro que li dele o quas e memória amei
depois li antes,o verão e materia de memória ( e ambos falavam do fiim de relacionamentes ) ia fiquei com um pé atras e quando descobri que isso é mais ou menos um padrão nos livros dele só passeia a ler somente os livros dele com longos intervalos entre um e outro.
lembrei de uma menina resenhista que fala que o probelama é que ela sempre pega o livro alge do autor é quando ela vai ler um outro ela sempre espera mais e estes mais não vem ai fica um rodizio enorme de autores de cabeçeira dela
será q ao invés dos autores terem se tornado bundões ñ foi vc como leitor q acabou viciando em ousadias literárias?
Defina ousadias literárias.
Se você entrar no link, por exemplo, de Liberdade vai ver que eu não tiro os méritos do livro, mas não deixa de ser bundão, de ficar em cima do muro. Não é apenas ousadia de estilo literário, mas de como conduzem o tema, como apresentam seus personagens. Se você ler os últimos livro do Roth, reconhecerá os mesmos personagens, o mesmo enredo esquemático, nada que surpreenda ou emocione. Você já viu aquilo e não traz nada de novo, além de fugir da tangente de temas que antes eram explorados.
usei o termo ousadias literárias só p nomear aquele algo + q vc procura nas obras destes autores, mas vc pode chamá-lo d outras coisas, naturalmente, q se encaixem melhor no seu ponto d vista.
enfim, oq levantei é justamente q ñ foram os autores quem mudaram, foi vc como leitor específico deles. por exe., 1 leitor q pegue qq 1 desses últimos livros do roth q vc mencionou e vá lê-lo como a sua 1ª experiência com o autor, poderá achá-lo o livro + foda dos últimos tempos? e se ele ler 1, 2, X livros do cara, qual será o ponto em q ele, como leitor, deixará d maravilhar-se e passará a considerar o autor bundão?
Bom, então seu exemplo não serve para seu post, só para “leitores” iniciados que queiram concordar ou discordar com a teoria.
Como qualquer coisa que vemos a primeira vez e gostamos, a mesma coisa pode acontecer com o livro de um autor. Podemos nos encantar com um livro mediano/ruim de um autor, mas outro leitor, que o conhece a mais tempo vai te dizer o contrário. Você vai atrás, vai conhecendo e percebe que, realmente, ele perdeu a mão. E há o caso, da Raq Toledo, por exemplo, que não conseguiu terminar Dublinesca (livro bundão do Vila-Matas) e justamente citamos isso para ela, não conseguiu porque não é o melhor, vá para outro.
Então assim, não estou generalizando. Eu mudei como leitor, mas nunca deixei de reler livros antigos de autores só porque eles viraram bundões.