Amélie Nothomb nasceu em Kobe, no Japão. Viveu também na China, Laos, Estados Unidos, Birmânia e Bangladesh. Sua língua nativa, porém, é o francês e sua nacionalidade, belga. Esse pequeno apanhado biográfico já a tornaria uma pessoa minimamente interessante. Mas o que realmente chama atenção nela é sua literatura – e não apenas, pois é, ao mesmo tempo, uma escritora que alcançou reconhecimento acadêmico e que sabe como aparecer bem na mídia.

Parece que um punhado de livros seus já foi traduzido para a língua portuguesa, com alguns títulos sendo de edições brasileiras. Não a conhecia, porém, até uma indicação do Tiago e de encontrar uma edição argentina – publicação da Anagrama e do jornal Página 12 – de Cosmética del enemigo.

A capa me intrigou: um quadrado azul com a sombra de dois aviões. Recentemente eu lera Guerra aérea e literatura, de W. G. Sebald, e fiz algumas conexões entre a capa, o título e o que estivera lendo. Quando comecei a leitura, percebi que dificilmente poderia ter me enganado mais. Ou não.

O livro, bastante breve, é o relato de um homem que encontra-se num aeroporto. Seu avião atrasa e, na sala de espera, ele é importunado por um homem bastante insistente – o típico chato que tenta, de qualquer maneira, conversar com desconhecidos que obviamente não pretendem colaborar. O falador inconveniente, ainda por cima, acaba se mostrando não apenas aporrinhador, mas também adepto de uma filosofia extremamente egoísta e talvez um pouco vil.

Acontece que o passado dos dois homens acaba tendo alguns pontos em comum, e isso desencadeia uma torrente de violência – verbal, psíquica e até mesmo física – que se mostra incontrolável (e sempre crescente).Com isso, talvez, eu não tenha me enganado tanto ao pensar no paralelo com o livro de Sebald: um passado que é enterrado de maneira deliberada, ou, pior ainda, como uma forma de proteção e a violência ligada não apenas a esse passado, mas a toda e qualquer tentativa de exprimi-lo.

Comparações à parte, Cosmética del enemigo é um livrinho bastante gracioso, tendo seu quinhão de humor negro, misturado a qualquer coisa de um existencialismo um pouco desesperado (desesperançoso?).

Infelizmente, porém, não tem edição brasileira – foi lançado em português pela Editorial Bizância, mas isso é do outro lado do Atlântico.