Quando você termina o livro, a primeira coisa que você pensa em falar é “Cósmico!”…

Mas isso lá é jeito de iniciar uma resenha? Não é porque um livro começa já perto do final da história que a resenha tem que fazer isso também. Vamos do início, então.

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Liam é um garoto de doze anos com problemas na escola. Até aí, nada de especial – afinal, quantos meninos nessa idade gostam de ir para a escola, para início de conversa? A diferença é que seus problemas não são exatamente comuns. Ele é estranhamente alto e há pouco tempo descobriu uns “fiapos de algodão doce” na cara que, depois de cortados pela primeira vez, passaram a ter “a ponta de uma escova de privada”. Sim, ele já tem barba. Barba suficiente para ser confundido com um adulto. Quando anda pelo shopping com sua amiga Florida (vidrada no mundo das celebridades), são confundidos com pai e filha.

Ele a conheceu na aula de teatro: “Quando Lisa nos fez participar de um jogo no qual tínhamos que fingir que vimos um fantasma, Florida viu o fantasma de Britney Spears. Quando precisamos fingir que éramos um cachorro, ela era o cachorro da Madonna”. Mas, antes disso, não tinha muitos amigos além dos virtuais, conhecidos jogando World of Warcraft: parte por ser discriminado pelos outros por sua altura, parte por ser meio nerd e estar na turma avançada da escola. Seus pais o inscreveram na aula de teatro, em que ele seria O bom gigante amigo perfeito, justamente para melhorar suas habilidades sociais.

As habilidades sociais – inclusive, a atuação – de Liam melhoram tanto que, pouco tempo depois, ele consegue até uma passagem para a China, onde está o melhor parque de diversões do mundo. Um parque de diversões cujo principal brinquedo é dos mais secretos e exclusivos: um foguete que dá uma voltinha no espaço sideral e depois volta para a Terra. Ele é um dos ganhadores de uma promoção e se passa por seu pai, o Sr. Digby, para levar sua suposta filha, Florida, numa viagem feita para provar que ele poderia, sim, ser o melhor pai do mundo.

Uma história que pode ser resumida nesses termos não parece ser das mais realistas. Se você já tiver certa idade, como é o meu caso, uma sinopse dessas provavelmente faria pensar duas vezes se o livro realmente valeria a pena quando não se é mais tão novo assim – pelo menos, eu pensei isso por um momento. Mas, quer saber? O livro é bem divertido. BEM divertido. Quem já viu (e gostou de) filmes como A fantástica fábrica de chocolate, Prenda-me se for capaz, Jack (aquele com o Robin Williams) e Quero ser grande (e demais filmes com fórmula parecida), provavelmente curtirá ler Cósmico. Aliás, o próprio autor já teve um livro adaptado para os cinemas – Caiu do céu, dirigido por Danny Boyle; quem gostou desse filme também deve curtir Cósmico. Falar de todos esses filmes é uma forma indireta de não revelar muitos spoilers sobre a narrativa – algo que estou evitando ao máximo.

O tipo de humor do narrador – meio irônico, meio cheio de referências e 100% nerd – é, creio, o principal trunfo do livro. É, por exemplo, menos científico do que um George e o Segredo do Universo (escrito, vá lá, por Stephen Hawking e sua filha), mas em compensação é muito mais divertido. Divertido como ver um episódio de O Mundo de Beakman. (Se a referência for muito velha, substitua O Mundo de Beakman por Os Caçadores de Mitos, sei lá). Ciência + Diversão = o melhor dos mundos (para muita gente).

Naquela noite, finalmente tirei meu móbile do sistema solar que brilhava no escuro do teto. Ele nem era astronomicamente correto. Ainda tinha Plutão. Todo mundo sabe que Plutão não é mais um planeta. É grande demais para ser um asteroide, mas pequeno demais para ser um planeta. Não é nada. É como alguém que é grande demais para ser uma criança e pequeno demais para ser um adulto.

Muitos são os temas abordados: a dificuldade em se “encaixar” quando se é adolescente; a diferença entre amigos virtuais e amigos físicos; as falhas de comunicação entre os adultos e os mais jovens; o aprendizado de algumas responsabilidades. A lista só aumenta, sempre que penso mais um pouquinho. Eu sei que nem sempre estamos lá muito a fim de pensar em certos assuntos quando lemos algo por diversão, mas, mesmo assim, acho muito interessante perceber o quanto certos temas são abordados em um livro tão gostoso de ler como esse.

Já falei que li em um dia? Não, né? Pois bem, então digo: li em um dia. Devorei mesmo. A leitura é gostosa (e viciante) a esse ponto – e pontos sejam dados para a tradução de Antônio Xerxenesky, bastante fluida.

Quando você termina o livro, a primeira coisa que você pensa em falar é “Cósmico!”. E há uma série de motivos perfeitamente razoáveis para terminar o livro falando essa palavra. Mas não conto mais do que isso. Spoilers, sabe?

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(Cósmico é o terceiro lançamento da Editora Seguinte – que também está sendo chamada de “o selo jovem da Companhia das Letras”. A data prevista para o lançamento é 23 de outubro de 2012 e em breve ele deve estar em pré-venda nas maiores livrarias. É só ficar de olho na fanpage da editora.)