É bom, mas tem que acabar. Se até os filmes têm começo, meio e fim, por que seus festivais não haveriam de ter, não é mesmo? Mas dói o coração, porque é tão excitante saber que a cada novo dia teremos dez, quinze novos filmes na programação, e dos tipos mais variados, de diretores famosos ou novatos, documentários ou curtas de ficção, de comédia ou terror.

O Festival do Rio encerrou sua 15° na última quinta-feira (10) e os dois últimos filmes de minha programação – que somaram 19 títulos assistidos – foram: Only Lovers Left Alive (2013, mostra Panorama, trailer abaixo), novo longa do cult e maravilhoso Jim Jarmush, contando com muito estilo a história dos vampiros Adam (Tom Hiddelson) e Eve (a maravilhosa Tilda Swinton), vivendo o ócio dos séculos, até a chegada da irmã de Eve, Ava (Mia Wasikowska, como sempre muito bem); depois a sessão do doc luso-angolano I love Kuduro (2013, de Mario Patrocínio, mostra Midnight Música), sobre a febre desse ritmo em Angola, que já virou produto de exportação do país.

Nessa ressaca pós-Festival, tristeza em notar a quantidade de filmes que perdemos durante um evento deste tamanho. Como já disse aqui, não dá pra abraçar tudo. Penso que numa cobertura como o Posfácio se propõe a fazer, o ideal seria marcar presença em pelo menos um filme de cada uma das mostras. Mas elas são quase inúmeras, portanto a tarefa tona-se impossível, restando-nos apenas nossa cobertura no formato de rapidinhas-apressadas. Fica aqui, portanto, minha autocrítica em forma da tristeza de um cinéfilo que, como todos os cinéfilos, gostaria de ver mais filmes do que de fato viu – e passar opiniões e dicas aos nossos leitores.

Felizmente, contudo, pude ver muita coisa boa, como o comovente Christoph Schlingensief e a Vila Ópera de Burkina Faso (2012, de Sybille Dahrendorf) e o arrebatador drama Tatuagem (2013, de Hilton Lacerda).

O menu do dia durante um Festival é vasto e diverso, aceitando misturas que em outros momentos fundiriam a cabeça de qualquer espectador. É possível começar o dia com um doc como Contadores de Imagens (2012, de Noelle Deschamps), passar para Custe o que Custar (1996, de Claire Simon, na retrospectiva da diretora) e terminar o dia com o clássico Dr. Mabuse (partes I e II, 1921, de Fritz Lang).

Infelizmente perdi as sessões de Blue Jasmine (2013, de Woody Allen), Salinger (2013, de Shane Salerno), A Fábrica de Revoluções (2013, de Franco Fracassi), Invadindo Bergman (2013, de Hynek Pallas e Jane Magnusson). O que me resta é a esperança de que estreiem em circuito.

Acompanhando dia a dia o evento, pelas filas nos cinemas e falta de ingresso, posso dizer que esse ano o Festival foi mais um sucesso de público. O destaque negativo vai para a ausência do telão em Copacabana, que no ano passado passou algum dos melhores filmes – especialmente clássicos remasterizados – da programação. Outra crítica vai aos filmes esdrúxulos, que apenas não se torna um problema sério pela centena de outros bons títulos, porém, haver na programação filmes como Mato Sem Cachorro (2013, de Pedro Amorim, na competição oficial) e Dragon Ball Z – A Batalha dos Deuses (2013, de Masahiro Hosoda) me causa incompreensão.

Já que falamos da competição oficial, o 15° Festival de Cinema do Rio de Janeiro encerrou-se com os vencedores da mostra competitiva, premiados pela crítica e pelo público. Destaque a Tatuagem, meu filme predileto deste ano até agora, que acumulou prêmios de Melhor Longa Ficção pelo público, Ator, Ator Coadjuvante, prêmio FIPRESCI da associação de críticos internacionais e menção honrosa do júri. Destaque também a Jessy, já comentado aqui nas Rapidinhas, Melhor Curta pelo público, e à categoria Longa Ficção, voto do júri, que pela primeira vez apresentou empate.

Em resumo, mais um grande momento ao Cinema nacional, mais um grande divertimento aos cinéfilos do Brasil. Com protestos e celebridades internacionais, o Cinema continua. Nos vemos ano que vem!