John Wells é diretor com vasta e bem sucedida carreira na televisão, responsável, entre outras coisas, por alguns episódios de ER: Plantão médico (1994-2006), The West Wing (1999-2006) e mais recentemente, a minissérie baseada na obra de Oscar Wilde, Mildred Pierce (2011), com Kate Winslet. No Cinema seu único trabalho expressivo havia sido A Grande Virada (2011), sobre a crise econômica americana. Contudo, esse ano nos traz seu trabalho mais consistente, visceral e profundo.

Álbum de família é baseado na peça vencedora do Pulitzer, de autoria de Tracy Letts, ator e autor e também responsável pela adaptação ao Cinema. Acompanhamos aqui a história da família Weston, cujo ponto nevrálgico é a matriarca Violet (Meryl Streep), viciada em comprimidos, especialmente agora que sofre de um câncer na boca. O drama se dá pelo sumiço do pai, Beverly (Sam Shepard num papel pequeno, mas pontual, daqueles que com cinco falas e dois minutos na tela ressoam pelo resto do filme), que traz à casa as três filhas dispersas, sendo a mais velha, Barbara (Julia Roberts), a que trava os maiores embates com a mãe – e a mais parecida com ela.

Recheada de discussões dramáticas, John Wells merece elogios por dar um passo atrás e deixar as belas interpretações conduzirem a obra. Num filme cujo elenco de coadjuvantes é formado por Chris Cooper, Ewan McGregor, Juliette Lewis, Abigail Breslin, entre outros, é apenas lógico que o foco esteja nas interpretações, e assim faz o diretor, sem pirotecnias com a câmera e ainda recheando os entreatos com belas cenas das padrarias do Meio Oeste americano.

No desenvolvimento da obra, discussões acaloradas (movidas a diálogos cortantes), alguns dramas bem explorados e outros nem tanto (sem comprometer a consistência do roteiro), e atuações grandiosas. Álbum de família é do tipo de filme no qual todos os atores saem indicados a prêmios, filme que cheira a Oscar, filme feito para brilhar.

Há quem se incomode com o excesso de drama, com a estridência das brigas e com os desdobramentos da história, mas para aqueles que têm família grande, daquelas com segredos velados, verdades não ditas, pedras no sapato e um parente difícil de engolir, é fácil se identificar em um punhado de situações. Comparando a intensidade dos diálogos e estilo dramático, só encontro semelhanças nos fabulosos Uma Rua Chamada Pecado (1951, Elia Kazan, adaptação de Oscar Saul para texto do grande Tennessee Willians) e Quem tem medo de Virginia Woolf? (1966, Mike Nichols, adaptação de Ernest Lehman para texto do grande Edward Albee).

Ainda assim, à parte de todos os demais elogios, merece nota a interpretação de Meryl Streep, que mais uma vez chega aonde nenhuma outra atriz jamais chegou. Violet pode não ser sua melhor personagem, mas reforça sua aparentemente infinita capacidade de metamorfose, sua dedicação aos mínimos detalhes, seu controle expressivo e corporal e sua habilidade vocal e atenção aos sotaques. Julia Roberts, que nunca me pareceu a excelente atriz que todos falam, aqui faz um bom par com a grande Meryl, mostrando maturidade nas difíceis cenas em que sua Barbara se descontrola, no melhor estilo tal mãe, tal filha.

Em sessão vazia, em pleno 2 de janeiro, Álbum de família foi o primeiro filme que vi em 2014, e como acredito que o primeiro filme de um ano define o resto do ano-cinéfilo, 2014 tem tudo para ser excelente.

http://www.youtube.com/watch?v=VWfGFhSS51o