Dia desses estava lendo o livro Como mudar a sua mente: O que a nova ciência das substâncias psicodélicas pode nos ensinar sobre consciência, morte, vícios, depressão e transcendência, do jornalista Michael Pollan, e reparei que o sujeito que havia acabado de entrar no café ficou tentando conferir a capa.

No que ele a reconheceu, me disse “uou, este livro é incrível”, e perguntou se eu tinha uma caneta.

Dei a caneta para ele, que me fez anotar um número de telefone. “Pronto”, pensei, “esse xaveco é novo”. Ao que ele imediatamente respondeu “esses caras têm os melhores cogumelos da cidade”.

30 segundos depois a sua companheira entra no café, nos vê interagindo e diz “uou, este livro é incrível”, ao que eu imediatamente respondo: “Pois é! Ele realmente abre portas”.

Me peguei pensando que essa situação jamais poderia ter ocorrido se eu estivesse usando uma daquelas capinhas protetoras de livros, comuns a quem frequenta o transporte público. 

Não é (só) pelos cogumelos, veja bem. Mas pela possibilidade de conhecer alguém, de interagir com estranhos, de se abrir para aquela sociedade secreta de fãs daquele autor —  nem que seja através de um olhar, ou daquele sorriso cúmplice de quem diz “é, eu sei, você também adora Salman Rushdie”.

Além disso, eu amo fazer o exercício de imaginar quem a pessoa é a partir do que ela está lendo. Algumas são estereotipáveis, como o metaleiro que lê livros fantásticos à la games de RPG, mas outras simplesmente não “combinam” com o que estão lendo. 

Reclamações à parte, entendo que algumas pessoas talvez leiam conteúdos considerados constrangedores em público e que, por isso, gostem de usar as famigeradas capinhas. Isso me faz lembrar da página Subway Creatures, do Instagram, que vira e mexe publica fotos de pessoas lendo livros, ahn… polêmicos.

Pelo que ouvi dizer, o uso das capinhas protetoras pode ser uma característica cultural. A primeira vez que as vi foi numa lojinha japonesa que ficava perto da minha casa. 

Como nunca as tinha visto antes, perguntei para a vendedora do que se tratava, ao que ela me respondeu “é para esconder a capa do livro que você está lendo”.

“Mas por que alguém faria isso?”, retruquei.

“Para preservar a privacidade. No Japão é algo muito comum. As pessoas sequer usam perfume, lá, pois pensam que podem incomodar os outros. Eles são muito preocupados com o espaço de cada um”.

Ah tá.

Talvez isso represente o extremo oposto da cultura brasileira e, por isso, eu não entenda totalmente. De qualquer forma, continuarei achando mais interessante ver o que as pessoas estão lendo e vice-e-versa. Vai que alguém me oferece cogumelos.