Acordei com ressaca de nicotina. Virado no tabaco. Outra noite mal dormida, que vínculo com a modernidade: a insônia. Brega e pedante. Não exercito nada mais que uma simples monotonia de escrever e ler, ler ou escrever, interpretar nunca. Não releio nada do que escrevo, não quero saber o que escrevi num diário ou guardanapo – não sou um leitor de mim mesmo. Escrevo sobre mim? Sobre eu? A propôs de moi (francês: que idiomazinho asqueroso assim como os próprios franceses)? Onde eu estava? No tabaco. Sim, resolvi parar de fumar. Pela terceira vez. Na primeira eu parei duas vezes. Acendi o último cigarro e dei uma tragada. Apaguei. Acendi outro e dei duas tragadas. Apaguei. Quando olhei pela janela não aguentei. Acendi mais dois e não quis apagar, fui até o filtro. Tossi. Abri a garrafa de conhaque, tomei, fechei a garrafa e senti o cheiro que vinha da boca. Tabaco e conhaque. 

Angela me dizia que tabaco era bom e conhaque ruim. Prostituta. Maldita. Amável. Deliciosa. Vestal. Onde ela foi parar? Um dia acordei, olhei para o abajur, para o criado-mudo, para o lençol manchado de porra, o cinzeiro que se formou no carpete que minha madrasta pediu para eu colocar nesse apartamento, senão teria que mandar encerar se fosse piso de madeira ou lavar com sabão se fosse piso frio, e se quebrasse teria que ir num cemitério de azulejo (para encontrar pisos, enfim), e nada dos cabelos louros, os olhos amendoados, a boca chupadora de Angela. A porra não é do boquete. Com certeza não. Ela engolia até escorrer uma ou duas lágrimas, parecia uma máquina produzindo vácuo, depois acendia um cigarro bolado com aqueles dedos macios (incrível como ainda tinha saliva para passar a língua e selá-lo) e tragava lentamente como se num regozijar da sua alma que saía pela boca. Após o cigarro, teria que aguentar meter mais duas vezes, e se sobrasse fôlego, teria que dar a terceira, sempre na mesma sequência: xota, xota, xota, xota, xota, boca, boca, cu, cu, cu, xota, xota, cu, cu, cu etc. De lado. Por trás. O além disso era pecaminoso segundo os dogmas de Angela. Pouco importa o que penso. Eu tenho a impressão errada de todo mundo, e quanto pior a visão, mais eu gosto da pessoa. Angela não mora mais aqui, nunca morou, e isso é formidável – eu estava certo, como sempre. 

Agora acordo sem dormir, noites incansáveis de conhaque e cigarros – sem punheta, bronha, descabelar o palhaço; o tal spanky the monkey. A impregnação na roupa, na pele, na boca, nos olhos, tudo intrincado para não conseguir o mísero júbilo que talvez me fizesse levantar do meu estado alfa, ômega, beta – seja lá como chamam a falta de vontade de fazer qualquer coisa. Como faço para notar se deixei de existir? Quando parei de sentir dores no peito após anos de alcoolismo e tabagismo frenético e, ironicamente, inerente? As manchas amareladas entre os dedos cheios de calos. Quando foi a última vez que lavei as mãos? Terça. Quinta. Da semana passada ou mês retrasado, quanto tempo faz? Retóricas. Como meu pai quando me acusava de fazer algo errado, de desrespeitá-lo quando não queria fazer suas vontades ou mesmo quando permanecia em silêncio. Perguntava algo e, no segundo em que colocava o ponto de interrogação na entonação, respondia a si mesmo com ar de desapontado. Não creio ser um fodido, creio que me fodi porque nunca tinha me fodido antes, e isso é muita fodeção para uma cabeça só. Quem me dera ser lírico. Minha vontade é sair pra rua e, após um porre, me enterrar num motel com uma simpática mulata do sexo feminino. Sim, do sexo oposto. Hoje em dia é tão fácil errar, a noite revela os melhores disfarces, as piores fantasias e os mais reclusos desejos. Pode se chamar Tânia, ou Laura, ou Jéssica. Tanto faz. Todas as histórias têm de envolver putas, drogas, assassinatos e muita conversa fiada. E só de citar essas coisas já penso que estou num monólogo pedante jogado ao vento. 

São nove e alguma coisa. Caminho pela rua até ela se transformar num poço de pessoas de todos os arquétipos vorazes e vontades inabaláveis. O luminoso em azul neon ou neon azul ou um neon de cor azul pisca lentamente, e logo abaixo uma placa dizendo ENTRE em letras garrafais para quem estiver perdido no escuro, no nome acima: Red Paradise. Red, ok? E o neon em azul. A última vez em que entrei num motel desses xumbrega eu era casado, morava junto na verdade, e resolvemos quebrar a rotina e passar doze horas trepando feito dois animais, o que não ocorreu, é claro. Era a Francis. Eu a conheci no penúltimo ano da faculdade, mesmo ano em que decidi sair de casa sem um porquê. Morei primeiro com o Júnior (todo mundo já teve um amigo chamado Júnior ou o amigo do pai que se chamava Almeida) que era um doce de menino. Doce até demais. Boneca mesmo. Porém respeitador, tentou umas duas vezes e viu que não tinha como conseguir arrancar ou colocar nada de (em) mim. Júnior tinha os dentes muito brancos e encavalados na parte debaixo, esbanjando uma simpatia ímpar que conquistava qualquer um – sexualmente ou não -, os cabelos repicados, curtos e emaranhados, e era um pouco mais alto do que eu, sem contar aquela arrogância natural. O que ele tinha de simpático, tinha de arrogante, mas essas duas virtudes (ou defeitos) funcionavam em harmonia, e ele sempre conseguia o que queria, “Preciso que você arranje um lugar para morar”, nem me importei em perguntar ou pedir um tempo, quase não dormia no apê, era apenas um lugar onde eu poderia ir se não estivesse bêbado e para receber as contas, de resto poderia dormir na Francis, a primeira mulher que liberou logo na primeira noite para mim. Só de lembrar daqueles mamilos rosados já me bate uma saudade. Da personalidade, não. Nem da cara ou do nariz de canário – aqueles com uma bola bem no meio do caminho, o que me impressiona de como alguém não fica vesgo com um negócio daquele entre os olhos. Não podia reclamar, Francis cumpria um papel incrível na cama, certeza que se fosse atriz (não que ela fingisse, veja bem) seria a primeira a ser escalada para fazer Macbeth ou qualquer outro papel feminino de Shakespeare. Nem sei por que o citei. De qualquer forma, Francis era notável, e depois de seis anos morando juntos percebi que precisávamos sair de casa para transarmos bem, para rememorar os velhos tempos, as velhas tradições, só que da última vez foi, como eu disse, a última vez. Ainda tinha os contatos que mantive na meia dúzia de anos com Francis, mas todas chegaram na idade em que precisavam escolher entre serem bem sucedidas, solteironas (famosas tiazonas) ou casadas depressivas. Uma a uma foram sumindo. Cogito se Francis fez uma plástica no nariz.

Preciso de um maço de cigarros e uma bronha bem longe de casa. Entro no Red Paradise a pé para receber aquele olhar julgador da recepcionista. “Viciado filho de uma égua”. Ela tem cara de quem fala égua no lugar de mãe ou puta. “Documento”, entrego, “suíte normal, plus, plus master, queen ou king?”. A que tem televisão é a mais apropriada com três ou quatro canais de sacanagem. Sacanagem, minha mãe, não, minha avó usaria essa palavra sobre levar uma garota para dar uns amassos no quintal da casa dela. Amassos, gíria do meu pai. Pegar no peitinho, gíria da minha idade. Nada demais, segundo meu filho que não nasceu, o primogênito que o corpo da Tamara não quis. Quase larguei Francis para assumir o menino ou menina que viria, fruto daquele super-esperma. Transei com a Tamara umas quatro ou cinco vezes e tenho a certeza onipresente de que ocorreu na primeira vez, naquela cama de solteiro com a cabeceira que batia na parede, os parafusos rangiam, o estrado rachava no vai-e-vem e o cheiro de porra impregnava o quarto. Ela era namorada de alguém da faculdade, da minha sala. Tales? Thiago? Tonho? Algum nome com a letra T assim como o dela. Não lembro bem. É meio vago, alguns rostos, alguns “E aí, tudo bem?”, aquele jogo cordial de corredores, de quando chegava na aula e sentava do lado, atrás ou na frente de um beltrano qualquer de quem não sabia o nome e nem queria saber. Provavelmente conseguiria um emprego vulgar se soubesse nomes, telefones trocados numa festa qualquer, num apartamento qualquer logo após a primeira aula, de metodologia ou cálculo (eu tive cálculo?), os rapazes e raparigas (meninos e meninas que se consideram adultos e precisam que o pai pague a gasolina e as bebedeiras) bebiam se tocavam e depois se beijavam e depois iriam trepar aqui no Red Paradise ou em qualquer outro canto da Rua Augusta e eu, por minha vez, conheceria Tamara, e ela me reconheceria me diria ao pé do ouvido alguma putaria qualquer. Usando saia, batom cor de rosa, cabelos castanhos presos num rabo de cabelo desordenado, os peitos que não precisam de decote para fazer saltar os diversos olhares matreiros – de quem não quer querendo. O namorado não estava na ocasião, no incidente, e todo mundo, dos mais variados cursos (será que alguma amiga de Francis estava lá?), veriam a troca de olhares e toques, no pulso, no cotovelo. Não pararia por ali. Superesperma pronto para atacar, calcinha de lado, pelo no pelo, três minutos cronometrados. Para qualquer um: o desastre. Para mim, uma conquista. Para ela, uma foda gostosa, rápida e sem compromisso – até ela atrasar, e aí: nada! Como ela queria, foram mais aquelas quatro ou cinco vezes, uma no meu apê antes dela ir para seu estágio, uma no carro da mãe com aqueles bancos de couro fedendo a suor, outra no banheiro da faculdade num dia facultativo. Quando não desceu, ela avisou. Dois meses depois desceu tudo e mais um pouco. Um feto? Não sei. Mas só de lembrar daqueles peitos, seguro meu pinto meia bomba e começo para cima e para baixo. Todo mundo sabe. Ok, algumas mulheres não sabem, elas parecem jogar um velho Atari: para cima, para baixo, para os lados, trezentos e sessenta graus, rápido e puxando até onde não dava mais. Manuseio como um profissional. Anos de prática e ócio e revistas do meu tio que ficavam dentro de uma mala preta, embaixo da cama e sem cadeado. Loiras, pretas, morenas, asiáticas (japonesas, coreanas, tailandesas), velhas e gordas (vício doentio esse da pornografia), mulheres com mulheres que mais parecem estar num comercial de sabonete – sorrindo, ensaboando, sem se olhar. Que saco, Tamara sumiu do meu pensamento. 

Televisão. Ligar. Passar de canal: entrevista com celebridade, entrevista com subcelebridade, animais no Ártico, autópsia, série – sério, para que tanto canal se todos querem ver putaria? -, sexo. Um cara musculoso, uma loira siliconada, mais condizente que a realidade duma novela onde o ricaço casa com a pobretona. Entra e sai, entra e sai. Que tédio. Cara musculoso, olhos azuis, tatuagem de uma gueixa e aquele rosto arredondado, opa, espera, será que é mesmo o Tales, Thiago ou Tonho? Ator pornô, quem diria, se trepasse com a Tamara daquele jeito, talvez ela nunca teria pulado a cerca, rebolado em cima de mim, virado as costas dizendo, “Por trás é mais gostoso”, ou olhando na minha cara, “goza, goza, goza”. Ela deveria estar nesse filme, Roxette Flowers, B.B. Janett, qual será seu nome artístico? Que droga. Como será o serviço de quarto daqui? Petit gâteau. Espera. Um cigarro atormentado. Um sino. Sorvete e bolinho de chocolate. Bolinho? Nunca gostei de pessoas que falavam no diminutivo, ainda mais parentes quando descobriam que você levou uma garota em alguma festa e dizem: “Como está a namoradinha?”. Afinal, “aquelazinha” não é um termo pejorativo? Namoradinha é quase como chamar de vadiazinha, e quem dera se ela fosse uma vadiazinha. Você com seus 14 anos de idade querendo pegar nos peitos que mal cresceram e ninguém libera. Ninguém. E as que liberam todo mundo sabe que já liberou para alguém antes de você. Que coincidências absurdas essas de pegar a menina que seu primo pegou antes e encontrar um antigo colega de faculdade fazendo filme pornô, espalhando a pior doença venérea: a estupidez. “Três longneck também, obrigado.”

Lembro bem desse tal de Tales, Thiago ou Tonho, era um daqueles caras estúpidos que falam “irado” e tem um péssimo gosto musical. Ele enfileirava seu carro com os dos amigos e aumentava até a música controlar as batidas do seu coração, ficava de regata, braços cruzados, dando risada e bebendo cerveja que no mercado custaria menos que um real. Tales, Thiago ou Tonho era do tipo que trabalhava na empresa do pai e para parecer que realmente era trabalhador, batalhador, vivia na labuta, entrava cedo e enrolava quase por três horas dentro do escritório para dizer, de peito estufado, a célebre frase “Fiquei preso na firma, foi tenso”, e inventava uma história qualquer sobre números não baterem e pessoas incompetentes que não se sabe como ainda seguem na empresa. Ele talvez tivesse uma irmã, ou prima, ou algo que valha, chamada Natália. Loirinha, peitudinha, de bochechas bem rosadas, bem humorada e sem namorado. Nunca ouvi nenhuma história sobre ela. Ninguém comeu. Mas era boa de papo. Dois minutos com ela e parecia que a levaria para a cama na mesma noite. Como aquelas meninas gordas e simpáticas que conquistam a atenção com risadas cadenciadas, histórias de vexame envolvendo alguns dos muitos amigos que têm ou com quem quase transou e não conseguiu porque outra situação impediu. Natália ninguém comeu e só Deus sabe como ela engravidou. Quando conversamos, ela chorou, “Você é um cara legal”, claro que sou, “Está com a Francis, trata ela bem, não a esconde de ninguém”, como se eu pudesse né Dona Natália, eu morava com a garota e para escondê-la só trancando naquele apê ou impedindo que ela viesse toda sorridente me dar um beijo porque não me vê desde a noite anterior. Quando ela se tornou tão amarga, apática, simplória, sem emoção, sem vontade de jogar conversa fora. Angela não perdeu nada disso e desapareceu. Francis descobriu Tamara, Michele e Beatriz? Carla ou Nanci? Ela esperava que eu mudasse e não tivesse mais desejo de comer bucetas diferentes da dela? Engravidou e resolveu ser mãe solteira? Ou o filho talvez fosse do Tales, Thiago ou Tonho. Enjoou de meus textos? O que isso tem a ver com sexo, convivência e jantares silenciosos?

Cigarro.

Nunca acreditei, ou tive uma crença tão forte em algo a não ser na nicotina de todo dia. Mas antes eu comecei a fumar para me mostrar, depois virou necessidade do cão. Te fode por dentro e por fora. Pulmão fica bronzeado, perde uns cinco anos – de aparência com o rosto cheio de buracos, a cara amassada e as olheiras profundas – a cada 30 maços de Marlboro vermelho, se não deixar ninguém filar. Essa pressa de crescer e aparecer. Fumar não me fez transar mais rápido que meus amigos e na verdade eu até fiquei com menos fôlego, se a bebida não me fizesse perder a noção do tempo, com certeza estaria me lamentando nas performances. Nem dirigir te transforma em homem. Uma das minhas teorias nesse mundo imundo que é São Paulo é justamente que motoristas são a mistura de ejaculação precoce com TPM. Têm pressa de atravessar o sinal, aceleram sem necessidade e ficam furiosos mesmo quando estão errados. Teorias arquetípicas brasileiras: fodidos da cabeça. Tive culhões para falar ao meu pai que fumava, muita gente esconde e pensa que é mais esperto e só depois de velho se toca que é muito fácil sacar os mais novos. Todo mundo se acha mais esperto do que é. “Cada um é o que tem coragem de ser”, falou meu pai quando contei que fumava, só para conseguir o direito de fumar no meu quarto, que era dele, na casa dele que chamávamos de nossa. Eu acho que ele me chamou de merda. Eu tinha coragem de ser um merda. Realmente nunca tive muita coragem, nunca confundi foda-se com coragem. Direto ao assunto nas meias verdades. Nunca tentei me camuflar, era um livro aberto de páginas rasgadas. Tosse. Tosse. Maldito tempo seco. Maldita fumaça. Maravilhosa fumaça. Os odores nunca mais são os mesmos depois que comecei a fumar. Buceta cheira a cinzeiro, comida tem gosto de cinza e só café tem gosto diferente. Nem sei se é de café. O que eu gosto mesmo é fumar, beber e foder. Tenho bebido menos por conta das dores de estômago, tenho fumado mais por causa do tempo ocioso e não transo tanto quanto minha imaginação quer. Na minha imaginação eu quero trepar o tempo todo, mas ultimamente só fica nesse abstracismo mesmo, eu trepo por sete minutos e fico feliz; acendo cigarro, viro e durmo. No máximo, um boquete ou coisa do tipo. Acho que bato mais punheta do que transo mesmo. Deus tira a potência, mas não tira a vontade. Preguiça de transar de manhã, cansaço para trepar à noite. Bons os tempos em que eu me imaginava como o maior fodedor de todos os tempos, que teria de ter 4 mulheres diferentes por dia. Eu também pensava que lesbianismo era legal. Só para bater uma mesmo. Transar com duas mulheres ao mesmo tempo é cansativo para burro, mete em uma, mete na outra, as duas se pegam e se divertem mais que você e nem dá para gozar nas duas ao mesmo tempo. Só em pornô mesmo. Lembro que era a Talita, negra de mamilos negros e cu negro; e a Camila que tinha uma bunda enorme e toda vez que dava um tapa parecia uma gelatina. O maior problema da Camila é que, além daquele bundão enorme, ela peidava. Quando estava comendo as duas, enfiei no cu dela sem querer – empolgação, no calor do momento os buracos, qualquer um, são fáceis de entrar – e aí saiu aquela merda toda. Apocalipse anal. No pornô eles não mostram essa realidade, a não ser que você seja um fodido que goste de bosta e compre um vídeo direcionado para tarados que nem você. Pornografia move o mundo. Tales, Thiago ou Tonho deve estar ganhando uma grana. Se bem que, ouvi falar, há um tempo com a última pessoa que conversei antes da Angela, que o que dá grana em filme de sexo é sexo entre dois homens. Lembrei do Junior e aquela velha análise semiótica dele que “pirulito que bate bate” não passa de dois caras fazendo troca-troca e esfregando o pau um no outro. Ainda tentei tirar pela tangente, “E a parte ‘quem gosta de mim é ela’, é uma mulher”, e ele respondeu com toda aquela classe, “Querida, ela é a bi…a bicha né”. 

Homem com homem. Mulher com mulher. Pensar nessas coisas me faz desistir. Era só para ser uma punhetinha. Acho que ouço vozes. Não, não, não, é a televisão. É o Tales! Esse era o nome. É pago para foder alguém, e esse alguém é pago para ser fodido. E eu pago um quarto para me masturbar. Mas-tur-bar. Prostituição deveria estar no plano de governo. Quem não consegue por conta própria pode apelar para o estado lhe arranjar uma mulher. Pra cima, pra baixo e bem rápido. Num motel. Vejo essas caras conhecidas nesse pornô de baixo orçamento. Fechar os olhos. Murcho. Aumentando. Agora sim. Francis. Angela. Natália. Tamara. Boquete, de quatro, de lado, por cima, por baixo. A sua bunda roçando no meu pau. Que empolgação. Caralho! Vou gozar! Já gozei? Que quente… É sangue! Que merda! Me estourei! Bronha homicida! Papel, estancar. Tropeço. Tontura. Muito rápido. Anseio. Zonzo. Gonzo. Dor. Sinônimos para essa merda. O que está acontecendo? Castigo? Doença? Preciso de um cigarro para me acalmar. Tosse. Pigarro. Brancura. Pai. Mãe. Junior. Pirulito que bate bate. Maldito, não quero essa última imagem. Angela. Hematomas. Debaixo da cama. Soco, murro, discussão. Há quanto tempo não estou sóbrio? Cigarro caindo no chão. Apaguei. Recobrei. Fumaça.

Desmaiar.

Dois dias no hospital. É o que parece. Disseram uma semana. Que aventura! Querer tocar uma bronha e acabar no hospital. Disseram: assassino. Disseram outras merdas também como reabilitação e condenação. Sinônimos. Não conseguem encontrar nenhum parente próximo vivo. Incêndio. Culposo. Queimaduras de segundo e terceiro grau. Perda do órgão genital. Destino fálico. Programa evangélico na televisão do quarto. Pastor Tales conta sua trajetória guiada por Satanás e a salvação pelas mãos de Cristo. Segura na minha mão. A estupidez realmente é a pior das doenças. Estou em estado terminal.