“O mundo real, sólido, em que os mortos tinham vivido e edificado, desagrega-se.”

(conto: “Os Mortos”)

Primeiro livro de ficção do irlandês James Joyce, Dublinenses, escrito quando ele tinha apenas 23 anos, reúne 15 contos sobre a “querida e suja Dublin”. É o espelho do homem no século que se iniciara (XX), onde os velhos costumes se confrontam com os antigos aspectos – um embate ético, que compõe esta obra.

Essas curtas narrativas fogem dos pontos fortes das obras de Joyce: o fluxo de consciência, as inovações lingüísticas e as passagens subjetivas do tempo. Dotando um tom naturalista influenciado pela tradição literária do século XIX.

É importante notar que não é Dublin que é descrita, mas sim a vida de suas pessoas, fechadas em suas pensões, escritórios, pubs, criando através de fragmentos o retrato da cidade, em preto e branco, considerado por Joyce “o centro da paralisia”.

Aqui os contos podem ser divididos em fases: infância, adolescência, vida adulta e a vida pública (influenciada pela política e costumes).

Em “Os Mortos” (adaptado por John Huston em 1987, sendo também seu último trabalho, com título no Brasil de “Os Vivos e os Mortos”) a estagnação política ajuda numa curva crescente para desilusão nacionalista, presente também em “O retrato do artista quando jovem” (onde é exposto de maneira mais clara). No belíssimo “Um encontro” a infância, a contemplação dos lugares novos e os medos pueris são o centro da narrativa. Enquanto em “Eveline” há a fuga da terra natal por não suportá-la e o tormento de deixar o próprio lar.

Esses sentimentos ambíguos refletem os sentimentos do escritor com a cidade, por muitas vezes ofensiva e por outras, mais leve. Este livro serve como ótima introdução para a obra de Joyce. Quem se interessa por saber mais da obra de James Joyce pode conferir se na cidade que reside será comemorado o Bloomsday ((O Bloomsday é um feriado comemorado em 16 de junho na Irlanda em homenagem ao livro Ulisses, de James Joyce. É o único feriado em todo o mundo dedicado a um livro, excetuando-se a Bíblia. O Bloomsday é comemorado na Irlanda e pelos amantes da literatura com diversos eventos oficiais e não oficiais. Também é comemorado todos os anos em vários lugares e em várias línguas. Em comum entre os muitos dedicados entusiastas e simpatizantes envolvidos nestas comemorações há o esforço por relembrar os acontecimentos vividos pelos personagens de Ulisses pelas dezenove ruas da cidade de Dublin.)). A programação de São Paulo pode ser conferida aqui.

JOYCE, James. Dublinenses. São Paulo: Folha de São Paulo, 2003. 222 págs. Preço sugerido: R$ 11,50

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