Essa noite, assim que surgirem as três primeiras estrelas no céu, inicia-se o dia 15 de Tishrei no calendário judaico, que corresponde à festividade do Sukot, ou festa das Cabanas- que relembra os 40 anos vividos no deserto, após o êxodo do Egito. Alguns dias atrás tivemos o Yom Kipur e, pouco antes, o Rosh Hoshaná.

O calendário judaico é um tanto quanto complexo, talvez por estarmos mais acostumados ao calendário gregoriano, que é solar. Mas tudo no judaísmo é complexo: a própria questão do ‘ser judeu’ é bastante complicada, já que alguém que é judeu para uma denominação (denominações são os ‘grupos’ dentro do judaísmo, como os Ortodoxos, os Reformistas, os Chassidim e os Caraítas, entre outros) pode não o ser para outra.

A história dos judeus também é um tanto quanto complexa: foram perseguidos muitas vezes durante a história, com motivos mais ou menos plausíveis e com motivos totalmente absurdos. Enquanto eram relacionados ao comunismo no ocidente, na URSS sofriam uma discriminação enorme. Agora passaram de oprimidos a opressores, em Gaza.

Some-se tudo isso ao fato de que desde sempre o povo judeu valorizou imensamente a questão do estudo e da leitura e teremos uma literatura extremamente rica e complicada. Na verdade, pode-se dividir a chamada literatura judaica em três vertentes principais, a saber:

A literatura hebraica– A literatura escrita em idioma hebraico, relativamente recente, pois é produzida via de regra por autores sabras (nascidos em Israel). Até os anos 70 costumava estar relacionada com o sionismo e certa dose de nacionalismo, mas isso perdeu um pouco da força e hoje seus maiores expoentes- Amós Oz, A. B. Yehoshua e David Grossman- relacionam-se, de um modo ou de outro, com a causa palestina e com movimentos pela paz.

A literatura ídiche– Hoje moribunda, já teve grandes nomes, como o prêmio Nobel Isaac Bashevis Singer. Outros escritores ídiches de renome foram Mendele Mocher Sforim, Shalom Aleichem, Y.L. Peretz. Muitos desses autores usavam de temática fortemente religiosa ou da vida nas Shtetls, pequenas aldeias judias na Europa Oriental.

A literatura em outros idiomas– Apesar de existirem idiomas próprios do povo judeu, muitos escritores usavam a língua dos países em que viviam. O próprio Singer fez isso, adotando o inglês ao mudar-se para os Estados Unidos. Imre Kertész e Sándor Marái publicaram em húngaro, Kafka escrevia em alemão, Bruno Schulz em polonês.

Resta  ainda definir o que é a literatura judaica. Qualquer obra produzida por escritores judeus? Sendo assim os ficções científicas de Isaac Asimov são literatura judaica- mesmo que não contenham nenhuma relação com o judaísmo, excetuando-se pelo autor. Por outro lado, se questões que concernem ao judaísmo são necessárias para que uma obra seja considerada parte da literatura judaica, parte da obra de Singer e Marái acaba sendo excluída- na verdade, até alguns livros de A. B. Yehoshua, que é israelense, ficariam de fora.

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