Ano passado o Tiago fez uma lista de livros que estavam por vir e que não tinham tradução pelo país, logo em seguida a Kika viajou para Paris e trouxe algumas lembranças literárias da viagem dela. Na última semana de Dezembro viajei para Argentina e gostaria de compartilhar alguns pontos que gostei da terra de Evita.

Como marinheiro de primeira viagem a capital federal argentina andei por quase seis horas por dia em cada bairro e claro que em cada um deles tentei encontrar os vestígios dos meus autores favoritos de lá – Casares, Borges, Cortázar, Lugones e Sabato. Para minha satisfação tudo na cidade lembra os contos e romances desses autores, incluindo os propósitos da cidade em transformar praças, casas e demais coisas em pontos turísticos (algo normal pela Europa).

Entretanto não é sobre esses locais que gostaria de falar, mas sim das livrarias e dos livros que encontrei por lá, da minha jornada pela maior livraria da América Latina e também por pequenos redutos que se destacam em bairros “estilizados” ou da moda.

Andando pela Rua Florida achei a versão reduzida do El Ateneo (que tem outras filiais na cidade que falarei em seguida), dedicada ao seu padrinho Julio Cortázar. Em quase todas as paredes há uma foto do escritor, nascido na Bélgica em 1914, com pequenos trechos de alguns de seus livros. As estantes não cobrem paredes gigantes e são distribuídas em cantos, deixando um espaço para circulação e em outros pontos preenchidos com cadeiras para você pegar o livro que (talvez) comprará e folhear um pouco. É interessante notar que essa livraria, como todas em Buenos Aires, separam as sessões por: Literatura Argentina, Literatura Latinoamericana, Literatura Universal e Clássicos.

Na irmã mais velha, El Ateneo da Av. Santa Fé, vemos um antigo teatro usando todo seu espaço para preencher com estantes espaçosas e um café localizado onde era o palco. No térreo temos Literatura (com as mesmas divisões da irmã caçula), livros de artes, guias turísticos, sociologia, psicologia, ensaios e direito. No subsolo fica o espaço de DVD’s e para as crianças, no segundo andar mais livros específicos e no último uma gama de exemplares musicais (CD’s e DVD’s) de coleções de ópera, tango, etc. É possível sentar nos antigos camarotes para ler ou apenas sossegar depois de ver uma livraria tão grande.

Como diria o ditado: “tamanho não é documento”, a livraria carece de mais exemplares, incluindo dos autores nacionais. Nas duas filiais que fui era possível encontrar Obras Completas IV do Borges, alguns livros de contos do Cortázar (numa delas havia dois exemplares de o Jogo da Amarelinha) e apenas A Invenção de Morel do Bioy Casares. Mesmo as edições de bolso variavam entre a escassez e o nulo. Pensei ser um problema das editoras ou edições. Além dos argentinos, encontrei um livro que copilava três livros de contos de Roberto Bolaño, vários livros de Jorge Amado e algumas edições caprichadas de clássicos da literatura como Moby Dick e Dom Quixote.

Poucos metros abaixo, encontrei a Cúspide Libros (outra forte rede na Argentina) que por dentro parecia um sebo de São Paulo: prateleiras juntas, livros muitos livros, pouca aparência marketeira, etc. Foi aí que minha surpresa transformou-se em decepção com a El Ateneo Grand Splendid, pois todos os livros e autores que eu procurava estava numa livraria menor e com um preço muito mais em conta. E apesar da cara de sebo todos os livros são novos. Encontrei todos os livros de Bioy Casares, as Obras Completas (realmente de Borges), Cortázar, Sabato, Lugones, Aguirre, Gelman, Guido e tantos outros e em formatos de bolso, formatos de grife, etc.

Por ironia do destino, logo em seguida fui ao bairro Palermo, o local do momento e da cena intelectual e artística de Buenos Aires (de acordo com aqueles guias que se compram em bancas), e encontrei a Libros del Pasaje. Localizada na Rua Thames uma paralela da Av. Jorge Luis Borges (que começa perto da Plaza Julio Cortázar). Bem pequena olhando por fora, mas o interior é recheado de prateleiras que vão até o teto e além da divisão clássica de todas as livrarias da cidade, conta com divisões para crianças, adolescentes e pós-adolescentes. Tem um café com cara de erudito, onde muitos dos tais intelectuais vão para usar seus notebooks para fazer algo intelectual ou falar no google talk. Todavia, o que chamou minha atenção foi a parede que está ao fundo da livraria, onde há diversos desenhos e frases escritas com giz e tinta.

A última livraria que passei foi uma chamada Art Books na Rua Chile em San Telmo. Totalmente especializada em livros de história da arte, fotografia, artes plásticas, esculturas, cinema, etc de volumes gigantescos que vão até 1.000 págs até uns mais simples com 100 págs. De lá só guardei a lembrança dos livros-filmes que você passa rapidamente com os dedos e eles mostram as figuras em movimento. Destaque para Un Dia En Buenos Aires e Dia de Los Muertos. Nesse mesmo bairro rola uma feira de domingo onde é possível encontrar antiguidades (não tão em conta) e algumas lojas de pôsteres (vai saber se você quer uma foto do seu escritor favorito em tamanho grande para te inspirar?).

O que eu trouxe de lá:

Cuentos (com três livros de contos: Llamadas Telefonicas, Putes Asesinas e El Gaucho Insufrible), de Roberto Bolaño
Diario de la guerra del cerdo, de Adolfo Bioy Casares
Historias desaforadas, de Adolfo Bioy Casares
La muñeca rusa, de Adolfo Bioy Casares
De las cosas maravillosas, de Adolfo Bioy Casares
Salvo el Crepusculo, Julio Cortázar
Cartas a los jonquieres, Julio Cortázar
Los Premios, Julio Cortázar
Foto de Escritor 1963 – 1973, de Sara Facio