Pouco tempo depois de minha leitura e resenha de Areia nos dentes, o autor veio a Curitiba. Infelizmente – apesar do meu assédio via twitter – não foi para lançar o livro na Itiban (com cartaz de divulgação gritando FAROESTE + ZUMBIS!!!, com as três exclamações e tudo mais), mas participar do projeto Autores e Ideias do SESC-PR.Ao menos deu pra fazer um tour com ele pela Itiban Comic Chop e pelo Brooklyn Coffee Shop, antes dele ir ao Paço da Liberdade para falar sobre livros digitais junto com Sergio Rodrigues. E se você conhece Curitiba, sabe que o café não é exatamente do lado dos quadrinhos, então deu pra trocar uns dois dedos de prosa bacana pelo trajeto.

Lembro-me de ter falado, lá pelas tantas, que pretendia comprar a reedição de seu romance de estreia. Ele falou que não precisava, mas eu nunca fui muito bom de ouvir conselhos, não. Comprei e disse a mim mesmo Pronto, esse eu vou sortear no meu blog. Mas quem disse que eu tive coragem, ainda mais sabendo que ele tinha alterado o texto e incluído cerca de quatro páginas, dividas entre diversos capítulos?

Então me dediquei a mapear onde estariam os parágrafos e frases a mais, comparando as edições lado a lado. Um bom amigo – chamemo-lo D. – informou-me que há algo chamado de “crítica genética” que se assemelha com o que fiz – exceto que a comparação seria entre os manuscritos e as obras publicadas, não entre edições. Depois da releitura, apreciei certos acréscimos, enquanto achei outros desnecessários. Se em alguns momentos buscou-se explicitar situações decisivas mais adiante na trama – conquanto já sugeridas no texto da primeira edição –, em outros as alterações soaram pouco convincentes em sua tentativa de “aperfeiçoar” a abordagem. Estes últimos ocorreram principalmente na parte metalinguística da trama: há um escritor contando a história de seus antepassados. Talvez eu tenha sido muito duro com tais parágrafos porque em meu exemplar eles estavam marcados lateralmente, o que me levava a analisá-los mais detidamente e questionar se haveria necessidade deles – chegando, muitas vezes, à resposta negativa. Talvez, não: estou certo disso.

Mas isso não chega a atrapalhar o livro. O livro continua bastante divertido e ainda refere-se a temas caros à literatura universal, tais como a relação entre pais e filhos e a rivalidade entre famílias. Um bom livro, que ajuda a criar expectativas para o seguinte, de contos, intitulado A página assombrada por fantasmas – também a ser publicado pela editora Rocco.