O inglês Ian McEwan é um autor que costuma andar em uma corda bamba: seus livros costumam ou ser muito bons ou uma decepção completa, e é difícil saber qual dos dois até que se termine a leitura.
‘Na praia’, felizmente, faz parte do primeiro grupo. É um livro curto, de prosa rápida e com uma trama simples, mas que nem por isso é superficial. Muito pelo contrário.
A história se passa em 1962- numa Inglaterra às portas da revolução sexual, mas ainda atada à concepções um tanto vitorianas- e começa na suíte de lua-de-mel do casal formado por Edward Mayhew e Florence Pointing, ‘jovens, educados e ambos virgens’, como o próprio autor nos conta, ao abrir o primeiro capítulo.
Os dois se conheceram na universidade em Londres e, depois de um breve namoro, noivaram e casaram. Parecem um casal perfeito, mas apesar da harmonia e estado de constante felicidade à que somos apresentados, os dois são bastante diferentes entre si.
E é conforme as memórias da história individual de cada um e da história deles como casal são intercaladas com o presente que nos damos conta dessas diferenças. Essas memórias vêm à tona devido justamente ao fato de ser a primeira relação sexual de ambos. Misturam-se então vergonha, culpa, desejo e medo, originando algo tão venenoso quanto patético.
O que McEwan faz não é apenas expor um casal em sua noite de núpcias. Ele expõe todo o pensamento de uma sociedade e o costura com os traumas pessoais dos personagens, através de sugestões sutis e que nunca passarão de suspeitas.
‘Na praia’ é, acima de tudo, um conto sobre erros- e sobre a inércia causada pelo orgulho e pelo medo. Junto com ‘Sábado’ e ‘Reparação’ é um dos melhores livros do autor.
Na praia
(On Chesil Beach)
Ian McEwan
Tradução Bernardo Carvalho
136 páginas
R$ 38,00
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Dos livros de Ian McEwan que li gostei de todos, embora tenham sido somente três: Amsterdam, Na praia e Reparação. Amsterdam é o mais fraco, mas mesmo assim não é “uma decepção completa” jamais. Aliás nunca soube que algum livro dele tenha sido assim classificado antes, pelo menos pela crítica especializada. E não é necessário terminar a leitura para descobrir que Na Praia ou Reparação são excelentes; dá para perceber logo nas primeiras páginas. Quanto ao que você escreveu sobre Na Praia eu assinaria embaixo. Dos sessenta livros que li em 2009, coloco-o ao lado de A Vida de Py, de Yann Martel, O irmão bom, de Chris Offutt, Noite do Oráculo, de Paul Auster, Cão come cão, de Edward Bunker, Filme, de Lillian Ross…
Não acho que os livros “ruins” do McEwan sejam uma decepção.