Scott Pilgrim Contra o Mundo definitivamente não é o tipo de coisa que realmente me atrai. Eu sou notoriamente chato com relação a livros, quadrinhos e filmes. Mas já que um amigo me ofereceu emprestado, eu resolvi pegar os dois volume que a Companhia das Letras lançou por aqui (o terceiro, e último, está para sair) e conferir eu mesmo qual é a da série, porque O’Malley conseguiu chamar tanta atenção.

Talvez seja eu quem está amolecendo, mas não desgostei de todo. Na verdade posso até dizer que eu gostei bastante. Sim, a história é meio bobinha: um guri de 20 e poucos anos que tem uma banda e que joga video-game se apaixona por uma menina e tem de derrotar os ex-namorados dela para que o relacionamento possa continuar. Além disso o desenho é bem simples, uma mistura entre as coisas do Cartoon Netwoork e um mangá. Mas… Ainda assim o autor canadense, Bryan Lee O’Malley, conseguiu fazer algo cativante até para o leitor mais chato/exigente.

Um dos pontos interessantes talvez seja o fato de que apesar de falar dos ‘ex-namorados do mal’ e de que isso ou aquilo é ‘do mal’, não existe maniqueísmo em ponto algum da história. Scott é bonzinho e tudo mais, mas ele não deixa de ser um canalha às vezes. Tanto que, apesar dos protestos de seus amigos, ele começa a namorar com uma menina de 17 anos, Knives Chau, para largá-la assim que Ramona Flowers aparece.

E, claro, isso não é a única coisa politicamente incorreta que aparece. Pilgrim é um jovem de 20 e poucos anos e, como tal, ele não se furta a encher a cara, fazer sexo e falar besteiras. Do mesmo modo as outras personagens- sejam elas do bem ou do mal- o acompanham nas bebedeiras, fumam e até mesmo tem uma vida sexual não tão regrada quanto uma mãe gostaria. Tudo isso, porém, sem ser explícito ou cair na vulgaridade.

As referências aos video-games são outro ponto forte. Quem jogava video-games nos tempos dos 8 e 16 bits vai lembrar-se de muita coisa- que aparecem de modo claro ou mesmo como ‘brindes’ escondidos, tanto nos desenhos quanto nos diálogos.

Mas o grande momento dessa tangência ao universo dos video-games são as lutas. Cada vez que Scott tem de enfrentar um dos sete ‘ex-namorados do mal’ de Ramona, as lutas são semelhantes a um jogo de luta e, derrotado o inimigo, Scott ganha um item e até sobe de nível.

Não posso esquecer de mencionar as bandas. Scott tem uma banda. Sua ex-namorada tem uma banda. A única coisa mais presente do que os video-games são bandas. A banda de Pilgrim, Sex Bob-Omb ensaia várias vezes e, inclusive, aparecem as letras (que na edição nacional aparecem em inglês com as traduções em anexo) e até mesmo cifras e indicações do tempo das músicas. Com habilidades musicais um tanto quanto limitadas e uma preguiça um pouco grande, eu não tentei tocá-las, mas imagino que isso possa ser feito.

Enfim, Scott Pilgrim Contra o Mundo não é uma obra prima que vai mudar a vida de ninguém. Mas nem pretende ser. Na verdade, é mais do que perfeito para o que Bryan Lee O’Malley quis: é uma série extremamente divertida, com personagens e piadas inteligentes, recheado de referências mais ou menos obscuras. E nem o desenho tosco chega a atrapalhar: depois que o leitor se acostuma, ele pode até mesmo ganhar certo charme.

Scott Pilgrim Contra o Mundo, volumes 1 e 2

Bryan Lee O’Malley

Tradução de Érico Assis

368 páginas (volume 1) e 408 página (volume 2)

R$ 35,00 (cada volume)

Saiba mais sobre essa e outras obras no site da Companhia das Letras

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