Vivemos em um mundo que costuma ser caracterizado como pós-moderno. Isso certamente é uma coisa que muita gente já ouviu, mas que poucas pessoas sabem o que é. E que menos gente ainda consegue definir. Obviamente não é uma tarefa simpes: sociologia, filosofia, antropologia, história e outras áreas do conhecimento vêm considerando o tema como uma problemática de suma importância, e inúmero estudiosos têm se debruçado não apenas sobre a pós-modernidade, mas também sobre os problemas que nós, como indivíduos pós-modernos, enfrentamos.
Zygmunt Bauman é um sociólogo polonês de origem judaica nascido em Poznan e que, depois de ter sido perseguido por forças anti-semitas dentro regime Soviético- o qual durante muito tempo apoiou- e que hoje em dia vive na Inglaterra. Ele tornou-se conhecido, num primeiro momento, ao estudar a modernidade e o Holocausto: esforçou-se por destrinchar a lógica ética, social e história que levou o mundo ao extermínio em massa de judeus.
Desde o começo dos anos 1990, porém, Bauman vem alterando o foco de seus estudos, tendo passado a centrar-se justamente na pós-modernidade e no consumismo- que ele identifica como parte integrante desta.
E ‘Vida em Fragmentos: Sobre a Ética Pós-Moderna‘ é, como seu título explicita, uma coletânea de textos sobre a pós-modernidade, mais especificamente uma série de ensaios que podem ou não funcionar como comentários adicionais a outro de seus livros, ‘Ética Pós-Moderna’– os ensaios sustentam-se bem mesmo sem nenhum embasamento prévio por parte do leitor.
Segundo Bauman a sociedade pós-moderna é marcada por uma fragmentação causada pelo consumismo ao qual somos inconscientemente coagidos todos os dias. Com isso, abandonou-se a ética- o que, porém, não nos isenta de assumirmos a responsabilidade moral por nossos atos- ou pela falta deles. Pela primeira vez na história da humanidade estamos desamparados, desprotegidos.
Isso origina uma série de problemas: o indivíduo transformou-se em um caçador de prazeres, un coletor de sensações, e, para evitar assumir responsabilidades morais pelo outro, superficializaram-se as relações interpessoais e aceitaram-se algumas formas de violência para se evitar outras. Mesmo o progresso biotecnológico tem sua parcela de culpa. Se antes servia únicamente para extirpar a doença, explica Bauman, hoje em dia serve muito mais para promover o bem estar- ou seja, mais um instrumento a serviço da busca desenfreada de prazeres, de recompensas imediatas.
Apesar de constantemente comparar nosso mundo ao seu antecessor, o moderno, Bauman não cai na armadilha de crer que o passado é idílico. Muito pelo contrário: nas bases da modernidade e de sua consequente falência é que foram lançadas as sementes da pós-modernidade, foi a falta de respostas adequadas para os problemas que surgiram àquele tempo que permitiram o surgimento das indagações atuais.
Mesmo o livro sendo de 1995 e de muito do que é dito nele ter sido ligeiramente reformulado pelo autor em livros mais recentes (o próprio termo pós-modernidade foi substituído em obras mais recentes por modernidade líquida), Vida em Fragmentos ainda é não só um livro relevante como, possivelmente, essencial para a compreensão do mundo inconstante e dúbio em que vivemos. O próprio Bauman, aliás, em uma entrevista recente, disse que esse é um dos livros seminais de sua obra.
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Vida em Fragmentos: Sobre a Ética Pós-Moderna
Zygmunt Bauman, tradução de Alexandre Werneck
416 páginas
R$ 59,90
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Cara, que vontadona de ler mais esse.
Se ele ao menos explica o lance do consumismo focando na literatura (que a cada dia lança algo novo que a gente quer muito ler) o cara conseguiu exemplificar bem o que eu sinto diariamente e torna seu livro obrigatório.
Quando eu tiver um tempinho, peço emprestado (caso você não tenha tomado emprestado de OUTRA pessoa)
Comecei a ficar meio descrente do Bauman quando ele começou a lançar livros e mais livros com a palavra ‘líquido’ ou variantes no título. Parecia estar gerando desdobramentos que não conseguiriam ser tão verticalizados quanto é ‘Modernidade Líquida’. Não sei dizer se isso realmente veio a acontecer, mas esse livro de ensaios parece mostrar que o tema da ‘pós-modernidade’ está tão vivo e ainda suficientemente mutante e difícil de definir mais precisamente, que mesmo o Bauman está ainda procurando compreender a dimensão e o alcance dessas mudanças.
Para quem quiser rastrear um pouco de onde veio essa ‘coisa’ da pós-modernidade, indico ‘As Origens da Pós-Modenidade’ do Perry Anderson. É difícil pela quantidade de referências a trabalhos já realizados buscando entender esse conjunto de transformações e essa nova ‘condição’ (não sei se essa seria a palavra certa), mas é bem legal, inclusive para saber o que ler além desses que já citamos aqui.
sinto que o capitalismo nos possibilita o individualismo
Sao tantas a tecnologia inteligente e diária
morar em condomínio já não me faz falta um marido
Ter um iphone já não me faz falta uma secretária
as pessoas estão virando grandes coisas
as coisas estão valendo mais que algumas pessoas
quando chegar a data em que faremos filhos
através de máquinas
eis o fim do capitalismo que cria coisas
Eis uma nova era
A era da máquina que faz a máquina
a era da máquina que destrói o homem bicho
a era da máquina que faz o cyborg
o homem com tecnologia que selecionará uma mente sem tecnologia