Foi lendo um texto em que ela dizia gostar de escrever sobre lugares desinteressantes que me surgiu a curiosidade pela obra da jovem escritora gaúcha Carol Bensimon. Já há muito perdi a desconfiança que tinha quanto à autores brasileiros, em especial quando se trata dos mais jovens.

Ao ler Pó de Parede o que ela escreveu nesse texto ficou bastante claro. Nenhuma das três histórias parece ter um cenário especial- um bairro de classe média, uma  bucólica e entediante cidade do interior, um hotel decadente. Esses lugares, tão estupidamente comuns e sem sal, no entanto, tornam-se vivos justamente a partir dos acontecimentos que Bensimon cria, e do modo cuidadoso como ela articula o tempo, as ações e os pensamentos das personagens.

Não que sejam acontecimentos realmente extraordinários ou espetaculares. No primeiro conto, A caixa, Alice é uma garota ligeiramente desajustada, filha de pais hippies e que vive em uma casa de arquitetura pouco convencional. Junto com seus amigos, Tomás e Laura, passa pela adolescência – ouvem música, experimentam drogas e sentem-se rejeitados. Os inúmeros saltos temporais criam lacunas que preparam, de modo sutil, para as reflexões suscitadas pela tragédia que se abate sobre eles- lembrada anos depois.

Em Falta céu a protagonista novamente é uma adolescente, mas que vive em uma cidade do interior  tão bucólica que não oferece perspectivas para seus habitantes, até que começam a construir algo. Essa construção não só acaba se mostrando importante para algumas experiências essenciais da vida da personagem principal, Lina, como causa mudanças na vida de toda a cidade. É justamente uma dessas mudanças a força motriz do clímax da história, que é rapidamente abandonado.

Por fim, Capitão Capivara nos leva a um hotel um tanto quanto decadente, em que alterna-se a narrativa de um famoso escritor- que se vendeu, escrevendo best-sellers que não gosta e inserindo propaganda em seus livros- e a de uma jovem que busca justamente experiência de vida para poder escrever. Ambos, porém, acabam mergulhando num mar de auto-piedade e decepções.

Particularmente, por mais que todos os contos sejam bons, acredito que o último seja o ponto alto do livro.  A autora brinca com uma infinidade de clichês presentes na literatura e no imaginário de todo jovem com pretensões a escritor, desconstruindo-os a partir de uma ironia extremamente refinada.

Pó de Parede é um livro curto, bastante rápido de ser lido. Não é por isso, porém, que deve ser considerado como um livro menor. É cativante e inteligente ao mesmo tempo, tirando tanto humor quanto melancolia do ridículo da vida cotidiana e da literatura. Apesar de eu ter descoberto uma infinidade de autores nacionais dos quais gostei nos últimos tempos, arrisco dizer que, entre esses, se não for a autora de que mais gostei, está bem perto disso.

Pó de parede

Carol Bensimon

128 páginas

Preço: R$ 28,00

 

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