Roberto Bolaño nasceu em Santiago no dia 28 de abril de 1953 e faleceu em 15 de julho de 2003.  Entre suas principais obras estão Putas Assassinas, Amuleto, A Pista de Gelo, Os detetives selvagens e o póstumo 2666 – romance que lançou a Bolañomania. Para um escritor de língua estrangeira é um desafio homérico figurar entre os livros mais vendidos na terra do Tio Sam, a obra 2666 conseguiu vender mais de 75 mil exemplares e, em novembro de 2008, figurava entre os melhores livros lançados naquele ano. Os detetives selvagens é constantemente comparado a magnum opus de Julio Cortázar, O jogo da amarelinha. Política, drogas e literatura são os principais ingredientes de um gênero policial escrito por Bolaño. Para celebrar esse verdadeiro fenômeno, escolhemos o dia da sua morte – precoce – para indicar os livros desse escritor que será falado por muitas décadas (e se não se convencer, que tal dar uma olhada no guia montado por Antônio Xerxenesky?)

Luciano: La Universidad Desconocida– Bolaño é muito famoso por seus romances e novelas, mas começou escrevendo poesia. Apesar de ter abandonado o gênero prematuramente, eu considero justamente essa a melhor parte de sua obra. Que, aliás, tem muito em comum com todo o resto: as reflexões sobre literatura, sobre o ‘ser escritor’, sobre o exílio e sobre a América Latina, já estão todas presentes. Do mesmo modo, é na poesia que nasce seu universo de detetives, prostitutas e poetas- algumas de suas personagens, inclusive, surgem pela primeira vez nos poemas.

Lucas: Estrela Distante: Há uma frase no ‘Manifesto Infrarrealista’ que define bem a impressão que causa essa obra: ‘subverter a cotidianeidade’. Esse foi uma das preocupações da literatura de Roberto Bolaño, e está em cada página de Estrela Distante, pululando no submundo literário construído sem glamour nem badalação, mas visceral, ontológico, entranhado nos poetas cujas referências vão se avolumando absurdamente na obra. Carlos Wieder, o eixo sobre o qual a história gira, acaba sendo quase obnubilado pela pujança de nomes, idéias e a gana de “chacoalhar” as estruturas da literatura contemporânea de onde ela deve ser chacoalhada: nas suas bases, de baixo; não no panteão (embora ele seja referência). É preciso trazer a aparente apatia do presente e ultrapassar esse véu insosso que o cobre para reconhecer a dialética que se move sob a sua opacidade. A literatura aparece como a prática subversiva necessária e perspicaz para completar essa empresa, aí é que Carlos Wieder se torna emblemático novamente, bem como a jornada literária em seu encalço.

Anica: Putas Assassinas: Quer conhecer Bolaño mas tem medo de começar pelo gigantesco 2666? Está aí uma boa obra de entrada. Essa coletânea de contos traz consigo muitas características que aparecerão em outras obras, seja na questão do espaço (a aridez de alguns de seus lugares), seja nas personagens (em determinados momentos com alguns aspectos autobiográficos), os temas (sexo, violência, exílio) e por que não dizer também do tom (variando da melancolia para o humor com uma habilidade incrível). Muito embora alguns fãs de Bolaño digam que essa é a obra mais fraca do autor, ela ainda assim é muito boa, e o mais importante, certamente dará conta de representar muito bem o que se verá desenvolvido de forma ainda mais elegante nos outros livros do autor.

Felippe: Os detetives selvagens: Na lista de melhores leituras de 2010, eu citei Os detetives selvagens, livro de 1998 de Roberto Bolaño. Nesse indica falarei um pouco sobre essa obra debochada, ácida e sonoramente poética. Acompanhamos Artur Belano e Ulisses Lima, dois reais-visceralistas, que buscam uma poetisa desaparecida. Através de uma série de depoimentos de diferentes pessoas, em diferentes lugares e datas. Uma aglutinação de vozes que se guiam e se perdem em busca, talvez, da mesma coisa. Uma redenção? Uma explicação? Um posicionamento? Talvez, talvez. Fora o contexto político, nossos jovens poetas namoraram mulheres bonitas, se embebedam, criticam poetas consagrados, ou seja, uma miscelânea de acontecimentos que Bolaño usou para homenagear a sua geração – e tentar, mesmo que não acreditando, que não estava tão perdido quanto parecia.

Tiago: Llamadas Telefonicas: esta primeira coletânea de conto de Bolaño fazem juz ao título – são contos longiquos, que estabelecem uma relação a distância entre o leitor e essas histórias, com as vozes melacólicas que narram e cruzam essas histórias e cujos rostos não podem ver. Ao mesmo tempo (e esse é o paradoxo de toda conversa telefônica) é uma relação extremamente íntima. Assim, conhecemos os percursos de um escritores pelos concursos literários de “quinta divisão” em “Sensini”; ouvimos o relato que Abel Romero, o ex-policial de Estrela Distante, escuta da atriz pornô “Joanna Silvestri”; escutamos o diálogo entre os dois policiais que vislumbram o fantasma de Belano em “Detetives”; e temos o conto que talvez seja o meu favorito da coleção, o curto “Henri Simon Leprince”, uma narrativa sobre o atributo que Bolaño mais valoriza: a coragem.

Tuca: 2666 romance em que Bolaño ainda trabalhava quando da sua morte, foi denominado “O livro do ano” em diversos países ao ser publicado, servindo à consolidação da famosa Bolañomania. Suas 848 páginas (na edição brasileira; em outras, ultrapassa as 1000), divididas em cinco partes, são praticamente impossiveis de resumir. A trama, que se passa principalmente na Europa e no México, acompanha críticos literários obcecados por um autor recluso, um professor universitário à beira da loucura, um jornalista afroamericano enviado ao México para cobrir uma luta de boxe, uma série de crimes sexuais seguidos de morte não resolvidos pela polícia e a vida de um famoso escritor durante décadas.

Não, nem de longe consegui resumir 2666. Grande parte do amplo panorama descortinado no livro se apresenta quando são retratados personagens coadjuvantes, recorrentes, aos quais é dado tanto destaque que por vezes esquecemos da história que acompanhávamos até então. Um livro longo e bem escrito, que nos fisga de tal forma que eu recomendaria a sua leitura num período não conturbado, para devorá-lo e aproveitá-lo ao máximo.

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