A língua basca, ou Euskara, é uma das línguas mais antigas da Europa, e é um idioma bastante singular: é um idioma isolado, não tendo nenhum parentesco com as línguas indo-européias. Isso lhe vale o rótulo de idioma difícil, ininteligível, estranha.

Aos ouvidos ocidentais, pode soar assim mesmo. Mas ela tem seu centro em dois países que nos são bem conhecidos: a Espanha e a França, no território chamado de Euskal Herria (País Basco), um lugar extremamente agitado politicamente, especialmente em sua parte sul (a parte que pertence à Espanha, e que é a maior) – ainda não faz nem um ano que o grupo separatista ETA anunciou o fim de seus ataques armados, optando pela via democrática.

Talvez seja pelo fato de ser um idioma minoritário, talvez seja pelo fato de o governo Espanhol reprimir suas manifestações ou ainda por ser uma literatura recente (o primeiro livro em Euskara data de 1545), a literatura Basca apenas recentemente tem ganho um pouco mais de atenção do mundo ocidental – com traduções para inglês e outros idiomas mais acessíveis que o basco. Recentemente, no Brasil, foi publicada a antologia Poesia Basca- das origens à Guerra Civil.

Essa antologia, traduzida e organizada por Fábio Aristimunho Vargas, é uma tentativa- louvável- de mostrar um grande recorte temporal da poesia basca – forma, aliás, que predomina na produção literária nessa língua. Além de uma interessantíssima introdução que versa sobre os idiomas espanhóis (o livro é parte de uma série que, além de poesia basca, tem volumes sobre poesia espanhola, caltalã e galega), mais um breve introdução ao histórico, temas e estética da arte poética Euskara.

Seguem-se a isso os poemas, divididos em duas seções: poesia basca de tradição oral e cânon da poesia basca. Os nomes são bastante auto-explicativos; na primeira parte trata-se de uma coletânea de poemas e canções que foram registrados na forma escrita mas que, antes disso, já estava circulando pelo País Basco na forma oral, sendo muitas vezes de autoria anônima, na segunda metade são poemas escritos, advindos de uma tradição mais culta e geralmente ligada ao clericato, de um modo ou de outro.

Todos os poemas estão apresentados em versão bilíngue, então é possível comparar as duas versões – ao menos na sonoridade, já que o livro apresenta um breve guia de pronúncia no final.

A comparação mais interessante que pode ser feita, porém, é entre os próprios poemas mais antigos e mais recentes – são, é verdade, radicalmente diferentes, mas alguns temas se repetem sempre, como uma valorização e uma exaltação da cultura e do sentimento nacional basco, sem deixar de lado outros temas, que são caros à poesia universal, tais quais o amor, a morte e a beleza.

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