Miguel Angel Astúrias foi premiado com o Nobel em 1967 e é um dos principais nomes da literatura guatemalteca. Suas obras possuem características que as ligam a outras da América Latina na tradição do chamado “realismo mágico” ou “realismo maravilhoso”. A associação entre perspectivas políticas e contornos fantásticos foi uma das tônicas da literatura latino-americana no século XX, e Astúrias sorveu da rica mitologia quíchua, herança dos maias e outros povos antigos para escrever suas histórias.

Vento forte, romance de 1950, é o primeiro livro da Trilogia Bananera, que se completa com O papa verde (1954) e Los ojos de los enterrados (1960, sem tradução). O cenário latino-americano, intensamente explorado e dominado pelas companhias norte-americanas que mantinham seu jugo operando tiranetes fantoches, é o palco onde Astúrias faz desfilar o dilema da dominação e a opressão tanto econômica quanto cultural e física. Os interesses econômicos das elites eram contemplados pela exploração e facilidades da dominação estadunidense, o que perpetrava um ciclo de sufocamento de avanço democrático e de criação de obstáculos de ordem política.

A Guatemala experimentou contextos políticos diversos ao longo do século XX. Há ditaduras como a de Manuel Estrada Cabrera (cuja figura influenciou a construção do romance O senhor presidente, publicado pelo autor em 1946). Há experiências de governo mais democráticos, como os governos das juntas de Arévalo e Arbenz, instaurados pela derrubada do ditador Jorge Ubico na chamada Revolução de Outubro de 44. O governo de Arévalo e Arbenz ficou conhecido não só pelas medidas democráticas, mas também pelo combate antiimperialista e nacionalista, que procurou erradicar a presença do capital monopolista norte-americano no país, exercido principalmente pela gigante multinacional United Fruit Company, que explorava a produção de frutas tropicais.

La Frutera (como era chamada a United Fruit Company por Astúrias) intervinha diretamente na política do país por conta do presidente títere a soldo dos Estados Unidos, monopolizando não só as terras, mas expropriando os moradores e pequenos camponeses, e utilizando-se extensivamente dos recursos disponíveis, desde o solo até a água, e a própria mão-de-obra. Uma das frutas cujo comércio era muito lucrativo era justamente a banana, que desempenha em Vento forte papel semelhante ao que o cacau desempenha no romance de Jorge Amado que tem como título a fruta pomo da discórdia.

Em Vento forte os personagens encontram-se ligados justamente por conta da produção de banana, sendo que a atividade econômica dita os rumos que toda a vida na região deve seguir. Pelo menos essa é a intenção da Tropical Bananeira S.A., a empresa que faz as vezes de gigante multinacional. Acontece que a mesma atividade lucrativa que interessa aos acionistas e ao Papa Verde (a irônica alcunha do presidente da Tropical S.A.) representa para os camponeses e trabalhadores agrícolas a miséria, a perda de suas terras, de suas condições de vida, enfim, da destruição gradativa e perversa de todo o seu modo de vida, que passa a ser constantemente atrelado a lógica ferrenha do lucro a qualquer custo.

Adelaido Lucero é um dos trabalhadores que está envolvido com a produção de banana, ele acaba muitas vezes reproduzindo a ideologia da Tropical S.A., visto que a posição que ocupa lhe tolda a uma determinada conduta, embora ele vá se dando conta do vilipêndio da realidade ao longo da história. Conforme ele vai tomando consciência da situação em que se encontra seu país e seus conterrâneos, ele planeja, juntamente com Sebástian Cojubul, Lester Mead e outros, uma iniciativa que se coloque contra a titânica Tropical Bananera.

O choque dos interesses provenientes do país explorado e do explorador marcam a tensão presente na trama. Os personagens expressam esse conflito de interesses, pois estão localizados ora em um lado da arenga, ora do outro, questionando-se sobre as possibilidades e limitações das empresas que tomam para si.

O fantástico entra em uma cena Deus ex machina, quando um vendaval se abate sobre a plantação de bananeira, comandado por um líder espiritual que partilha dos segredos e da sabedoria mitológica ancestral. Porém, não só de mágica se faz a resistência: trabalhadores da plantação de banana erguem seus facões contra a opressão, buscam assumir o controle sobre suas vidas, pleiteando à força condições melhores para poderem viver.

Entrelaçando todos esses elementos, costurando-os com a narrativa realista que flerta com o passado mitológico herdado dos antigos habitantes da Guatemala, Astúrias ergue-se como um simpatizante das populações guatemaltecas (e latino-americanas em grande medida), usando sua literatura como forma de denúncia, tanto quanto de arte.