Se em Misto-Quente Henry Chinaski é um adolescente espinhento e fracassado que leva porrada do pai e que é maltratado pelos colegas, e em Mulheres temos o mesmo Chinaski, agora um escritor velhaco e fim-de-carreira – mas sem jamais abandonar as mulheres e a bebida de lado – em Cartas na Rua temos o meio do caminho entre essas duas fases.

Tudo começa, segundo o narrador (que é o próprio Chinaski, nada menos que um alter ego do próprio Bukowski), com um erro: começar a trabalhar como empregado temporário dos correios norte-americanos. Era Natal e, além de dinheiro fácil, Chinaski consegue sexo com uma mulher desconhecida; e assim crê ter encontrado o emprego perfeito.

A partir disso pode-se imaginar para onde a história caminha. Idas e vindas do emprego nos correios, relacionamentos mal sucedidos e álcool. Duas das mulheres com quem o autor viveu, aliás, estão presentes no livro, sob as formas de ‘Betty’ e de ‘Joyce’. A primeira tendo sido um de seus casos mais marcantes, e a segunda  sua primeira esposa.

O estilo é coerente com o resto da obra de Bukowski, sendo bastante rápido e utilizando um vocabulário invulgarmente vulgar, cheio de coloquialismos e palavrões. Isso, porém, é quebrado por inúmeras citações de documentos dos correios – via de regra admoestações a respeito da inadequação das condutas de Chinaski.

Cartas na Rua foi o primeiro romance do escritor norte-americano, tendo sido publicado em 1970. Apesar disso e de toda a coisa sexo-álcool poder parecer um pouco adolescente, é uma obra já bastante madura, consistente. Talvez isso se deva ao fato de que, antes de enveredar pelos romances, Bukowski já havia publicado mais de 10 volumes de poesia, além de uma boa quantidade de contos. De qualquer maneira, o livro é uma obra indispensável – uma das peças-chave da literatura norte-americana do último século.

Cartas na Rua

de Charles Bukowski

tradução de Pedro Gonzaga

192 páginas

R$ 17,00

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