Aleksandr Solzhenitsyn foi um escritor russo, tornado mundialmente famoso com seu livro ‘Arquipélago Gulag’ – em que falou sobre os campos de concentração estalinistas, tendo sido prisioneiro em um deles. Ele chegou, inclusive, a receber o prêmio Nobel de Literatura em 1970.

A mesma admiração, porém, ele não recebeu em seu país natal – ou, pelo menos, não livre de problemas: a circulação de suas obras em cópias pirata dentro da União Soviética (os famigerados samizdat) e sua difusão no ocidente foram causa de censuras ao escritor.

Solzhenitsyn já era relativamente polêmico – apesar de tido como bom escritor – por sua novela Um dia na vida de Ivan Denissovich, livro publicado nos anos de relativa abertura política após a morte de Stálin, na qual descreveu, pela primeira vez, a vida de um prisioneiro político no gulag.

Mais tarde, porém, a URSS endureceu novamente e esse tipo de escrito deixou de ser visto com bons olhos – e muitas obras de Solzhenitsyn foram impedidas de ser publicadas, ou foram publicadas com algumas ressalvas. Muitas acabaram por ir parar no ocidente ou nas versões piratas.

Em Os direitos do escritor temos duas cartas dele à União dos Escritores, um órgão teoricamente responsável por defender os direitos dos escritores, debater e promover a literatura mas que, na prática, servia para decidir o que era adequado para publicação e o que não era.

As cartas tratam sobre a publicação de O pavilhão de cancerosos, obra sobre a vida em habitações coletivas para prisioneiros doentes de câncer. Considerado um dos textos mais cientificamente apurados em seu retrato da doença – à época ainda mais terrível do que hoje – era também apurado demais ao mostrar a realidade desses lugares, o que não agradava a União.

Lidas pelos seus destinatários como uma espécie de acusação ou, pior ainda, ameaça, as cartas são na verdade advertências e pedidos de ajuda: Solzhenitsyn roga que permitam a publicação de seu livro, antes que caia em mãos erradas e acabe sendo publicado no Ocidente, coisa que ele não queria, pois dizia escrever sobre e para os soviéticos.

Existe ainda a transcrição de uma conversa para o qual o autor foi chamado pela União, a respeito do conteúdo de suas cartas – conversa na qual as distorções do discurso por parte dos interlocutores de Solzhenitsyn é evidente. Terminando, mais uma carta.

O livro é interessantíssimo em seu tratamento às questões da censura na URSS e do nacionalismo daquele que é considerado um dos maiores dissidentes do regime soviético. E, apesar do tom formal que possuiu, não deixa de ser extremamente divertida (na falta de palavra melhor) a perspicaz argumentação de Aleksandr Solzhenitsyn.