Com certeza, Age de Carvalho, nascido em 1958, em Belém (PA), não é dos poetas brasileiros mais conhecidos pelo grande público, ainda que tenha obras publicadas desde 1980. Também não há grandes chances de encontrá-lo em eventos literários, já que ele foi morar na Europa há cerca de 30 anos. Além disso, ele não é dos mais aclamados pela crítica, bem pelo contrário, parece haver alguns muito revoltados com o caráter de sua produção poética. Então por que haveria motivos para lê-lo? A principal razão talvez seja justamente o fato de ele ter causado rejeição da parte de muitos.

Recentemente, Age teve dois livros publicados na coleção Ás de Colete, publicada pela Cosac Naify em associação com a 7 Letras: Caveira 41 (2003) e Trans (2011). Essa coleção, coordenada pelo também poeta Carlito Azevedo, já rendeu muita discussão para críticos atuais, que consideram boa parte dos textos como representativos de uma certa tendência poética do país (“limitada” e “afetada”, segundo o crítico Ronald Augusto). Caveira 41, livro do qual trato aqui, parece ser uma boa opção para começar a ler a poesia de Age, porém acredito que para se ver imerso no mundo de Age uma leitura progressiva de toda a sua produção seria necessária. Ainda assim, nesse livro temos como que uma síntese das temáticas mais recorrentes desse poeta, dentre elas a família, a morte, a negatividade e o concreto. Claro que a sua literatura não se resume a só isso, mas acredito que quase todos os seus poemas estão permeados desses elementos. Uma leitura comparativa entre Age e os outros integrantes da Ás de Colete também seria pertinente, porém não é o nosso enfoque aqui.

A poesia de Age de Carvalho aparece de início como escrita por Paul Celan (ou ainda Georg Trakl), composta de versos cuja forma é sempre a atração principal pelo seu caráter metapoético forte. Por isso, Age também pode ser visto como herdeiro do Concretismo (“A cantar: a trans- / ferida faca n’água / a nos abençoar / de mão em mão”), levando-nos a jogos como “trans-ferida”, palavra separada pela quebra de verso, origem de outras duas – sendo “trans”, assim como no livro Trans, referente ao vocábulo latino idêntico, que nos remete a “passagem”, “através”. Acredito que a sua poesia se mostra realmente distinta desses referenciais citados por querer se fechar em si mesma e eliminar os seus vínculos com o mundo para além dela, retomando constantemente os mesmos fragmentos (pedra, árvore, pai, filho, Deus e outros) para construir novos significados.

Aqui a afirmação de Roland Barthes de que “o livro é um mundo” é certamente verdadeira, porque temos de ir e voltar no livro a todo o momento com a vontade de apreender cada detalhe de cada verso para construir significados próprios na sua leitura. Inevitável procurar entender o que é “árvore” ou “pedra” em Caveira 41, desligando-nos do que conhecemos como uma árvore ou ainda do que a árvore pode representar na poesia moderna. O livro, separado em partes não nomeadas, nos oferece diversas visões sobre esse mundo novo que cria através da ruptura com a realidade, indo para além do nonsense em busca de um novo sentido (um novo “sense”).

Por essa ligeira apresentação da obra, espero incentivá-los a ler esse livro e toda a obra de Age de Carvalho, certamente muito interessante. Diante desses poemas, acredito que a idéia é procurar juntar os pedacinhos, os fragmentos do quebra-cabeça para tentar juntá-los a fim de construir algo relevante como leitura para cada um.