A julgar pela literatura, a sociedade dos Estados Unidos é formada por sucessivas gerações de idiotas sem esperança: pelo menos todo livro que é anunciado pela mídia como sendo “o livro de tal geração” mostra isso. São sempre adolescentes ou adultos jovens que não sabem o que querem da vida – ou que, simplesmente, não querem nada – e ocupam-se em se deprimirem. Sem nada de realmente especial.

É o caso de Abaixo de Zero, de Bret Easton Ellis. A contracapa da edição lançada pela LP&M anuncia que é O Apanhador do Campo de Centeio da geração MTV. Isso soa bastante ruim para mim.

Mas nem só de Salinger é feito o universo referencial de Elis. Constantemente algumas parecem tentar apontar para a geração beat e a Charles Bukowski. Sem sucesso, na minha opinião: o livro me lembra muito mais de Cristiane F., com a diferença de que as personagens são jovens ricos e bem educados.

A história fala sobre Clay, um jovem de 18 anos que está de férias da faculdade e volta para casa, na Califórnia. São quatro semanas de calor, sexo, niilismo e drogas. Pouca coisa realmente acontece de verdade – a maior parte gira ao redor de como Clay e seus colegas estão (são?) desanimados com relação ao mundo.

Se eu só falasse das coisas que me irritam no livro, porém, eu seria injusto. Existem alguns momentos muito bons, em que as descrições tornam-se bastante densas e a prosa de Ellis adquire características quase tangíveis. Curiosamente, são os poucos momentos em que se sai do marasmo existencial do resto da obra, são as horas em que o protagonista sente – ou quase, pelo menos – alguma coisa. E as referências musicais que estão presentes no livro todo são realmente bacanas – Devo, Elvis Costello e por aí vai.

Bret Easton Ellis é um autor deveras celebrado, mas, tendo lido Abaixo de Zero, eu não entendo o porquê. Ele não parece ter feito nada de novo, nem contado nenhuma história genial. É um livro que se apóia, basicamente, em suas referências.

Saiba mais sobre essa e outras obras no site da L&PM Editores