Vanessa Barbara

Vanessa Barbara tem 29 anos, é jornalista e escritora. Publicou O livro amarelo do terminal (Cosac Naify, 2008, Prêmio Jabuti de Reportagem), O verão do Chibo (Alfaguara, 2008, em parceria com Emilio Fraia) e o infantil Endrigo, o escavador de umbigo (Ed. 34, 2011). É tradutora e preparadora da Companhia das Letras, cronista da Folha de S. Paulo e colaboradora da revista piauí. Além disso, adora quelônios e é uma leitora aplicada, em razão desse último item a convidamos para intercalar uma lista de tema livre. V. optou por falar de 5 livros sobre afecções psiquiátricas e que amanhã estarão presentes em sua coluna no Blog da Companhia.

1) O demônio do meio-dia, de Andrew Solomon, ed. Objetiva. Melhor estudo sobre depressão já publicado. Com um estilo literário apurado, o jornalista narra sua batalha pessoal contra a doença e faz uma investigação de sua incidência, manifestação, sintomas e tratamentos. É um mundo cinzento onde chove o tempo todo e até as estruturas mais fortes são tomadas pela ferrugem. “Viver com depressão é como tentar manter o equilíbrio enquanto dança com um bode”, diz.

2) Um antropólogo em Marte, de Oliver Sacks, ed. Companhia das Letras. O famoso neurologista e escritor descreve alguns casos pitorescos que encontrou durante a prática clínica: um pintor que enxerga tudo em preto-e-branco, um cirurgião com Tourette, um massagista cego que recupera a visão. Do mesmo autor de O homem que confundiu sua mulher com um chapéu.

3) O segredo de Joe Gould, de Joseph Mitchell, ed. Companhia das Letras. Escrito por um dos maiores jornalistas da revista New Yorker, é o perfil de um mendigo excêntrico que pretende escrever a história oral do nosso tempo, um livro doze vezes maior do que a Bíblia. Gould era conhecido por falar com gaivotas e beber potes inteiros de ketchup. Caótica e ambiciosa, sua obra possuía longos capítulos ensaísticos que tratavam de temas como a influência do tomate na vida da sociedade contemporânea, além de trechos narrativos, fartamente carregados de digressões, nos quais Gould reproduzia conversas ouvidas ao acaso.

4) O alienista, de Machado de Assis. Conto clássico sobre um médico que decide enveredar pelo campo da psiquiatria, abre um sanatório e se dedica ao estudo da loucura. “De todas as vilas e arraiais vizinhos afluíam loucos. Eram furiosos, eram mansos, eram monomaníacos, era toda a família dos deserdados de espírito.” Com o passar das páginas, sua definição de loucura se torna ligeiramente mais abrangente.

5) Bem que eu queria ir, de Allen Shawn, ed. Companhia das Letras. Belo livro de referência para os fóbicos. O autor confessa ter medo de altura, água, campos abertos, estacionamentos, túneis, elevadores, metrô, pontes e estradas desconhecidas. Sua agorafobia serve de base para uma investigação mais ampla sobre as fobias e a psicologia do medo. O grande mérito do livro é que acaba expondo a relação direta entre nossas fraquezas e aquilo que somos. Referindo-se a seu pai (o lendário editor William Shawn), o autor diz: “O paradoxo é que, sem suas fobias, ele não teria chegado aonde chegou. Podia muito bem ter chegado a outros lugares; que possivelmente poderiam lhe ser mais compensadores, mas não lá, onde se revelou tão competente.”