É muito difícil pensar na extensa obra de Fernando Pessoa sintetizada em uma antologia, principalmente se o trabalho exigir o corte de muito material. Mas essa é exatamente a proposta lançada recentemente pela L&PM Pocket. O livro Antologia Poética reúne os principais textos do autor, e integra a “coleção 64 páginas” da editora, com livros que custam R$5,00. Acredito que o livro, bem como a coleção, é uma boa oportunidade para quem quer ser introduzido a uma obra ou autor. Além disso, os livros são bastante leves, fáceis de carregar e de leitura dinâmica.

Falando especificamente sobre a Antologia Poética, que é dividida em quatro partes, de acordo com a “autoria” dos poemas, permitindo sentir as principais características e diferenças entre cada heterônimo desenvolvido por Fernando Pessoa.  Primeiramente, nos deparamos com o Canioneiro geral, que revela a variedade temática em que o autor desenvolvia suas ideias. Chuva Obliqua é o destaque dessa parte. O texto mistura sonhos e realidade e é dividido em 6 poesias, que se encontram em sua totalidade no livro.

“Todo o teatro é um muro branco de música 

Por onde um cão verde corre atrás de minha saudade

Da minha infância, cavalo azul com um jockey amarelo…

E dum lado para o outro, da direita para a esquerda”

(Trecho do poema VI de Chuva Obliqua)

Completando o Cancioneiro, o leitor encontrará poemas como “Tenho dó das estrelas” e “Eros e Psique”. Os temas variam entre devaneios e sonhos, além de memórias e alguns momentos em que o autor se dedica a rebater críticas que recebia e a falar de sua própria escrita.

Logo em seguida, iniciam-se os poemas de Alberto Caeiro, talvez o mais conhecido dos heterônimos. Os poemas dessa parte são divididos entre “O Guardador de Rebanhos”, “Pastor Amoroso” e “Poemas Inconjuntos”. O destaque dessa parte fica por conta do poema VIII do “Guardador de Rebanhos”, um dos mais clássicos do autor e que define muito bem a personalidade de Alberto Caeiro, além de ser polêmico ao criticar a igreja católica. No texto, Alberto Caeiro conta sobre o seu menino Jesus, que vive com ele em sua fazenda e fugiu dos céus usando um raio de sol. Critica Deus e o Espírito Santo e fala sobre como as coisas da natureza devem ser sentidas sem serem interpretadas.

Seguem-se os poemas de Álvaro de Campos, heterônimo que é exato oposto de Ricardo Reis. Álvaro de Campos possui a mesma necessidade de sentir que Alberto Caeiro, com a diferença de que, para ele, não basta as coisas serem como são. O ritmo dos poemas é acelerado, pois esse heterônimo é vanguardista e fala sobre a cidade e a vida moderna. “Todas as castas de amor são”  e “Ode triunfal”  são os poemas mais conhecidos dessa parte e estão presentes no livro.

Por fim, os poemas de Ricardo Reis encerram a antologia. Monárquico e formado em medicina, o heterônimo também é um discípulo de Caeiro, embora isso resulte em poesias extremamente diferentes das de Álvaro de Campos. Ricardo Reis escrevia sobre temas pagãos e admirava a serenidade de Alberto Caeiro. A partir deste ponto, se inspira para escrever com serenidade e clareza, seguindo também a tradição grega.

Com tudo isso, Antologia Poética fornece um bom material de introdução ao leitor que quiser conhecer um pouco mais de sua obra no campo dos poemas. O livro, contudo, deixa muita coisa de fora, e aquele que desejar se aprofundar mais dos heterônimos de Fernando Pessoa, assim como as obras que ele assina como ele próprio, precisará recorrer a outros livros mais completos.

 

Título: Antologia Poética
Preço: R$5,00
Páginas: 64

Saiba mais sobre essa e outras obras no site da L&PM Editores