A palavra “robô” é, hoje em dia, parte integrante da cultura popular do mundo inteiro, além de ter sido integrada a uma série de vocabulários técnicos. E eles já até existem, mesmo que ainda bem distantes daquilo que vemos nos livros e filmes de ficção científica.  Há menos de 100 anos, porém, não só não existiam robôs ou qualquer especulação nesse sentido, como também a palavra era inexistente.

Não entendo o suficiente sobre os avanços da engenharia nesse sentido, mas no momento não é importante. Sobre a palavra, posso falar um pouco mais: ela deriva do termo eslavo robota, cujo significado está relacionado ao trabalho físico, em especial aquele que é extenuante. Originalmente a palavra seria laboři, derivada do latim, mas ela não soava bem aos ouvidos de Karel, que aconselhou-se com seu irmão Josef, e decidiu-se pela raíz eslava.

O que faz muito sentido: em A Fábrica de Robôs, obra em que a palavra apareceu pela primeira vez, os robôs eram seres humanos artificiais, incapazes de sentir dor ou qualquer outra coisa, que do começo ao fim de suas vidas trabalhavam sem parar.

Os robôs de Tchapek, porém, ainda não eram como os pensamos hoje: um cientista genial chamado Rossum (nome que relaciona-se com a palavra tcheca rozum, que significa “entendimento”) descobriu uma outra base para a vida, uma substância batizada de protoplasma: comportava-se tal qual a matéria viva, mas tinha uma composição química totalmente diversa.

Por 10 anos Rossum tentou criar seres humanos perfeitos. Seu sobrinho, o engenheiro Rossum, viu nas experiências do velho uma ótima oportunidade industrial, e passou ele mesmo a estudar a respeito. Conseguiu criar seres humanos que tornavam-se maduros muito mais rápido que o natural, além de não terem nenhuma profundidade emocional ou intelectual. Surgem, assim, os primeiros robôs.

Anos depois, Helena Glory, filha do presidente, visita a Fábrica de Robôs Universais Rossum com o intuito de levar os robôs a um levante – como muitos, ela acreditava que os robôs eram humanos e mereciam ser tratados como tal. Lá é recebida pelos administradores da empresa: Harry Domin, o diretor da fábrica, Fabry, engenheiro e supervisor técnico, Dr. Gall, o supervisor do departamento fisiológico, Dr. Hallemeier, diretor do setor de psicologia e educação dos robôs, Busman, o diretor comercial da empresa e Alquist, engenheiro civil e responsável pelas construções na fábrica.

Apesar dos propósitos de Helena, eles deixam que ela aja livremente, pois sabem que ela há de se frustrar: os robôs são indiferentes à noções de liberdade. Mas não a deixam sem alento, e lhe explicam o plano utópico ao que os robôs servem – eles produziriam tanto, que o trabalho humano e o comércio se tornariam desnecessários, as pessoas simplesmente se preocupariam em usufruir da vida. O resto da peça acontece 10 anos depois, em circunstâncias mais bizarras: Helena está casada com Domin e vive na fábrica. Os robôs foram usados para matar seres humanos, e apesar de a utopia estar cada vez mais próxima, passaram a haver protestos contra sua utilização. E, mais trágico ainda, os seres humanos pararam de nascer, como se a natureza protestasse contra a concorrência que passou a ter no ramo de criação de seres vivos.

A partir daí Tchapek explora as consequências sombrias dos ideais utópicos e da substituição do homem pelos robôs. Não abandona, porém, uma tênue e quase patética esperança.

Leitura imperdível para fãs de ficção-científica, o livro é uma das obras-primas de Tchapek. E, se não me engano, é a primeira tradução do livro para a língua portuguesa – do autor já tínhamos aqui A Guerra das Salamandras e Contos Apócrifos – pela mão de Vera Machac. Soma-se ainda um excelente estudo introdutório de Aleksandar Jovanović.

A fábrica de robôs

de Karel Tchapek.

Tradução de Vera Machac.

148 páginas.

R$ 26,00.

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