O escritor britânico Ian McEwan estará hoje (07/07) às 12h na mesa 12 aqui da Flip. O intuito da visita, além do bate-papo, é para o lançamento mundial, e exclusivo no Brasil, de Serena. Ganhador do Booker Prize por Amsterdã, McEwan retorna a Festa Literária após 8 anos, quando dividiu mesa com Paul Auster. Agora dividirá com a ganhadora do Pulitzer Jennifer Egan, numa das primeiras mesas a esgotarem desde a abertura das vendas de ingressos, ainda em junho.

Nesse último romance, traduzido por Caetano W. Galindo, o autor explora a relação entre uma espiã do Serviço Secreto Britânico e um escritor que não sabe ser contratado para escrever um romance pago pelo governo. Narrado pela personagem que dá nome ao livro (na versão tupiniquim, enquanto lá fora leva o nome de Sweet Tooth), somos apresentados a filha de um importante Bispo que usa dos mais diversos artifícios políticos para encobrir, por exemplo, a gravidez de uma das filhas que estuda medicina em Oxford. Sua mãe, por outro lado, é uma feminista enrustida que deposita todos os sonhos enclausurados em seu âmago sobre uma das filhas. Serena Frome vive à mercê de livros e cursa faculdade de matemática, imposta para ser uma das pioneiras em um ambiente totalmente masculino.

Esse simples plot é apresentado logo nas primeiras páginas, mas que não se sustentará apenas na vida acadêmica da protagonista, pois esse será o pequeno gancho que levará ao desenrolar de toda a trama.

Contratada pelo MI5 após a indicação de um professor do qual foi amante na Universidade, Serena torna-se a principal arma de charme e astúcia para usar o talento de um promissor escritor, Tom Healey, e colocar, dentro do livro dele, visões políticas numa espécie de doutrinação literária. O único problema é que a jovem espiã se apaixona pela escrita e, logo em seguida, pelo escritor. Graças a essa reviravolta o grande talento de McEwan é peça-chave para levar a simplicidade do “apaixonar-se” ao nível das mentiras e da manipulação. O envolvimento entre os personagens sofre com a degradação íntima dos segredos de Serena e de agentes externos. A relação e o sentimento dos personagens é verdadeira e ao mesmo tempo uma enganação, uma mentira que aumenta à medida que o amor também cresce. “Eu gostava de romances”, afirma a personagem principal, dando uma pista de que algo muito errado acontecerá.

Serena Frome não é uma personagem para se amar totalmente, mesmo que a simpatia seja grande logo nas primeiras páginas e não se perde mesmo nos momentos mais dúbios. É inevitável não querer mergulhar dentro da história e chacoalhá-la em muitas de suas decisões. Não há apenas louros em Serena: há um problema na falta de surpresa do seu desfecho, pois o autor joga algumas pistas ao longo da história que podem antecipar e, para um leitor mais atento, entregar a conclusão do romance. Mas como é apenas um demérito entre tantas qualidades, não é possível taxar o livro de irregular como Solar, um dos títulos mais fracos do autor britânico.

O autor afirmou à Folha de São Paulo: “Ninguém, por mais sincero que seja, diz inteiramente o que sabe numa relação. O medo de perder o outro faz com que se ocultem ou se recriem realidades. Isso não é necessariamente mau, é parte do encanto de estar apaixonado”, e esse é um dos pontos altos do seu livro de espionagem que retrata os segredos e a parcialidade na convivência humana. Somos todos os causadores das dores e também vítimas deles e até, como no caso de Serena, dos dois. Quem sabe é a física, a lei da ação e reação, que faz com que tudo retorne, de maneira igual ou diferente.

Ian McEwan sabe desenvolver a narrativa em primeira pessoa sem soar falso ou plástico, entregando mais uma personagem feminina interessante e irritante. Serena é cativante do início ao quase-fim, funciona como um livro de espionagem e como um retrato da fragilidade dos relacionamentos – dando a entender que grande parte deles vivem por um fio.