Está decidido: não lerei, de modo algum, a Granta brasileira. Na verdade, decidi isso há muito tempo. Quando ouvi falar que teríamos uma edição tupiniquim.

Que não me acusem de falta de patriotismo (apesar de eu, realmente, não ter nenhum – não me dou com o conceito de nação). Não porque li coisas ruins a respeito dos contos selecionados, menos ainda porque li coisas boas. Também não me motivo por outras leituras que porventura possa ter feito dos autores que participam da coletânea: li pouquíssimos e, destes, pouca coisa.

Não lerei a Granta brasileira por conta do que ela representa. Ela é a imagem cuspida e escarrada de um estabilishment literário um tanto quanto perverso: selecionam-se uns tantos escritores e diz-se que eles são o futuro da literatura, que a crítica vai amá-los. Logo estarão ganhando prêmios e fazendo concessões – alterando seus textos, suprimindo piadas – para serem publicados nas grandes editoras. Isso não necessariamente vai ser por vontade própria, talvez seja por conta de contratos.

Já existem exemplos disso por aí. A literatura brasileira conta com seu escritor maldito oficial. É como se tivéssemos uma banda de black metal satanista com o selo de aprovação da Igreja Católica. Poderia falar, também, de um outro escritor, que foi bastante bom, mas acabou se desiludindo com a literatura – e perdendo qualidade – depois de ser castrado pelos editores.

Não condeno, porém, ninguém que entrou na Granta. Ao contrário: dou-lhes os parabéns, porque algum mérito eles devem ter (e alguns, eu sei que realmente têm, outros quiçá nem tanto). O problema é justamente a lógica que faz um escritor querer esse tipo de legitimação.

Talvez, é claro, eu seja só um revoltado resmungão. Alguém que está por fora do que é legal, do que é interessante. Que não se liga tanto assim nos lançamentos e que prefere procurar escritores bizarros de nomes impronunciáveis, que vivem em países que sabe-se lá onde ficam num mapa. Uma espécie de síndrome de underground.

Mas aí eu lembro que muitos dos melhores autores que circulam por aí não tinham nenhuma espécie de legitimação. Aleksander Solzhenitsyn, por exemplo, era publicado em samizdat – edições não oficiais, muitas vezes mimeografadas ou copiadas na máquina de escrever –  e teve problemas legais por isso. O mesmo se aplica a Joseph Brodsky. Allen Ginsberg teve muitos problemas com seus poemas, indo inclusive a julgamento por causa deles. Mesmo Roberto Bolaño, que hoje é a bola da vez, já teve seu tempo de vacas magras – ele escreve até mesmo um poema a esse respeito.

Eu juro que eu queria ler (e gostar de) mais literatura produzida por aqui. Mas, à parte umas pouca exceções (que sempre existem, felizmente), todo o resto parece encaixar-se na lógica da Granta. E essa lógica funesta e covarde me desanima sobremaneira.