Nunca faço muitos planos para o carnaval. Não por não gostar da data, mas porque ano sim, ano não, o meu aniversário calha de cair na semana antes, durante ou depois. Só que não estou aqui para julgar a culpa dessa festança na ausência dos amigos nas minhas comemorações. Queira ou não, o carnaval nos dá uma semaninha para folia ou para descanso. Matutando sobre como abordar o assunto aqui no Posfácio, resolvi juntar o tema Carnaval – afinal, o ano só começa depois dele – e literatura.

Adolfo Bioy Casares, um dos meus escritores favoritos, falou sobre as consequências de festejar ao extremo em O Sonho dos Heróis. No livro, o protagonista Emílio Gauna ganha nas corridas e resolve gastar o montante com seus grandes, e excêntricos, amigos nos blocos e bailes de carnaval, na Argentina dos anos de 1920. Gauna tem a certeza que foi a melhor noite da sua vida, mas ele pouco recorda e seus amigos parecem evitar o assunto. As consequências daquela noite se sucedem em acontecimentos e coincidências que muitos chamariam de destino. Uma versão light e carnavalesca de “Se beber, não case!”

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Millôr e João Ubaldo Ribeiro

Para quem não quer saber das festas fora do Brasil, um dos carnavais mais famosos, o de Recife, foi retratado no livro Carnaval, da jovem escritora Luiza Trigo. Além de abordar as festividades e comidas típicas, a história do livro segue os amores e desamores de Gabi que resolve “tocar o puteiro” com as primas no nordeste brasileiro após o término de mais um relacionamento.

Se nenhuma das duas histórias te atraiu, a Companhia das Letras deu um empurrão e lançou alguns exemplares que abordam a grande festa brasileira: O crime do restaurante chinês, que além de carnaval tem bastante futebol na São Paulo dos anos de 1930; Carmem: Um biografia, sobre a vida de Carmem Miranda; Ecos da Folia, uma abordagem mais social sobre a festa; e O País do Carnaval, de Jorge Amado.

Por falar no escritor baiano, em 2012, ano do seu centenário, ele recebeu diversas homenagens e virou samba-enredo em duas escolas de samba. A Imperatriz Leopoldinense, do Rio de Janeiro, entrou na avenida com a música “Jorge, amado Jorge” e a Mocidade Alegre, de São Paulo, cantou “Ojuobá – No Céu, os Olhos do Rei… Na Terra, a Morada dos Milagres… No Coração, Um Obá Muito Amado!”, uma homenagem a sua obra mais célebre e reconhecida no mundo inteiro, “Tenda dos Milagres”.

Daniela Mercury e Jorge Amado
Daniela Mercury e Jorge Amado

Outros escritores também viraram samba-enredo: Lima Barreto na Unidos da Tijuca, Millôr Fernandes na Acadêmicos do Sossego, José de Alencar na Império Serrano, Hans Christian Andersen na Imperatriz Leopoldinense e Carlos Drummond de Andrade na Estação Primeira de Mangueira – sagrando-se campeã do carnaval de 1987 com o enredo “O Reino das Palavras”:

Mangueira

De mãos dadas com a poesia
Traz para os braços do povo
Este poeta genial
Carlos drumond de andrade
Suas obras são palavras
De um reino de verdade
Itabira
Em seus versos ele tanto exaltou
Com amor
Eis aí a verde e rosa
Cantando em verso e prosa
O que ao poeta inspirou

É dom quixote ô
É zé pereira
É charlie chaplin
No embalo da mangueira

Olha as carrancas
Do rio são francisco
Rema rema remador
Primavera vem chegando
Inspirando o amor
O rio toma conta do sambista
Como o artista imaginou

Na ilusão dos meus sonhos, achei
O elefante que eu imaginei

Agora quem escolhe é você: pular ou ler?