O Centro Cultural Banco do Brasil é uma entidade sem fins lucrativos mantida por um dos maiores bancos nacionais e presente em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília (e em breve também em Belo Horizonte). Com mais de 20 anos, tornou-se referência de boas exposições e atividades culturais, incentivando as artes para os mais variados gostos e com preços acessíveis – quando não inteiramente gratuitos. Recentemente causou frisson e enormes filas ao trazer “Paris e o Impressionismo”, com telas de Monet, Manet e até um Van Gogh perdido entre eles. Atualmente, em seu andar de exposições na sede carioca a retrospectiva sobre a animação MOVIE-SE: No Tempo da Animação, tem encantado adultos e crianças com peças que vão desde os moldes de gesso dos personagens de Toy Story a vídeos do visionário artista George Meliès (1861-1938).

Com teatro, dança, artes plásticas e pintura, contudo, os Centros destacam-se pelas retrospectivas cinematográficas. Foi no CCBB que pude ver a Mostra Ingmar Bergman, que passeou por todos os títulos do cineasta, inclusive os que ele posteriormente renegou.

Reabrindo sua Sala 1 de Cinema, o Centro do Rio de Janeiro iniciou a mostra Melhores Filmes de 2012, de 13 de fevereiro a 3 de março, com dez filmes selecionados pela ACCRJ (Associação dos Críticos de Cinema do Rio de Janeiro) – único órgão brasileiro vinculado à FIPRESCI (Féderation Internationale de la Presse Cinématographique), responsável por prêmios da crítica nos maiores festivais do mundo.

Além das oito projeções consideradas as melhores do ano, somam-se dois títulos em homenagem a cineastas brasileiros que morreram em 2012: A Casa Assassinada (1971), de Paulo Cesar Saraceni, baseado no livro Crônicas da casa assassinada, de Lúcio Cardoso. Em alguns momentos datada, a produção causa risadas nos momentos mais indevidos, pelas interpretações histriônicas (especialmente de Tetê Medina), mas vale pela dramaticidade da situação e pela qualidade técnica da produção – destaque a iluminação lindíssima e a interpretação da inesquecível Norma Bengell.

A outra produção no panorama póstumo é Filme Demência (1986), de Carlos Reichenbach, uma deliciosa e escrachada sátira ao intocável Fausto, de Goethe. Com momentos inacreditavelmente kitsches e ótimos movimentos de câmera, o diretor nos leva às gargalhadas (dessa vez, intencionais) ao acompanhar a degradação de seu Fausto-paulista (Ênio Gonçalves).

Carlos Reichenbach (1945-2012), o Carlão, junto com Paulo Cesar Saraceni, recebe homenagem do CCBB
Carlos Reichenbach (1945-2012), o Carlão, homenagem do CCBB

Dentre os efetivamente considerados os melhores do ano, destaque a emocionante e inovadora homenagem de Nelson Pereira dos Santos a Tom Jobim: A Música Segundo Tom Jobim, um recorte cronológico e mundial, sem nunca cair na chatice do formato documental, se renovando música após música. Também na tela, exibições dos oscarizados O Artista, A Invenção de Hugo Cabret e do iraniano A Separação. Soma-se ao Cinema do Irã o filme-polêmico do cineasta preso Jafar Panahi, Isto Não É Um Filme. Também presentes o tocante e minimalista Um Alguém Apaixonado, de Abbas Kiarostami e os vertiginosos (cada um a sua maneira) Drive, de Nicolas Winding Refn e Shame, de Steve McQueen – que ainda me causa arrepios quando lembro que Michael Fassbender não foi indicado ao Oscar pelo papel.

Na raspa do tacho do festival estão Febre do Rato, de Claudio Assis, o melhor filme nacional do ano passado. Com toda a fúria de Recife, o filme é um escândalo maravilhoso e merece ser visto e revisto e revisto e revis… E por último: Argo, boa produção de Ben Affleck que, em minha opinião, mais do que um dos melhores de 2012, me parece muito mais uma aposta dos críticos para o Oscar deste ano, em que concorre em sete categorias.

Vale lembrar que em determinados dias, após as sessões haverá debates com membros da ACCRJ sobre as projeções. Fique ligado no calendário disponível no site do Centro Cultural.

Para finalizar e ainda falando da estreita relação do CCBB com o Cinema, vale lembrar que a sala de Cinema do Centro de Brasília reabre com a mostra Mondo Tarantino, de 15 de fevereiro a 17 de março, com todos os filmes em que Tarantino participou (seja como diretor, produtor, roteirista ou além), incluindo os episódios das séries ER (Plantão Médico) e CSI dirigidos por ele. Depois de Brasília, a previsão é de que a mostra viaje para São Paulo.