Dia 9: De Paris a Havana

Ou “o dia em que Laurent Cantet me informou do resultado das eleições.” Infelizmente, isso foi a coisa mais interessante que aconteceu durante todo o período que passei dentro do Reserva Cultural para as duas sessões aqui registradas. Se este texto ficou consideravelmente menor do que o resto, não é porque eu repentinamente adquiri uma capacidade de síntese que até então não possuía, é porque eu realmente não tenho muito a dizer sobre esses filmes.

Minha Amiga Victoria (Jean-Paul Civeyrac, 2014) sofre daquele problema comum em adaptações literárias muito dependentes de internalizações: temos que ser constantemente informados do que os personagens estão sentindo e pensando através de voice-overs, ao ponto em que é difícil justificar a existência de uma versão cinematográfica da história. Não é um caso de “o livro é melhor,” é um caso de “por que eu estou assistindo a tudo isso, quando poderia estar lendo?”

Voice-overs incessantes não seriam terrivelmente problemáticos caso a história envolvesse elementos criativos, mas aparentemente a graça do texto original (que não li) está nas descrições. Trata-se de um drama dolorosamente convencional sobre a moça do título, uma mulher negra que vive em Paris e se envolve romanticamente com alguns homens durante sua vida. Tensões raciais são levemente exploradas, uma ou outra tragédia previsivelmente acontece, e eu fico olhando no relógio a cada cinco minutos. Medíocre.

** – vickies

Mais estimulante, mas não por uma ampla margem, Retorno a Ítaca (Laurent Cantet, 2014) se passa praticamente todo em um único cenário, um telhado em Cuba onde velhos amigos se reúnem e conversam em cenas longas narradas quase inteiramente em tempo real. A reunião foi incitada pela volta de um deles da Espanha, e no começo eles se limitam a relembrar os velhos tempos de forma animada e bem-humorada, olhando para o passado com uma nostalgia contagiante.

Todavia, antigos ressentimentos logo começam a rastejar para a superfície, hipocrisias são jogadas na cara e revelações perto do final complicam ainda mais a situação. A perda do idealismo da juventude e as dificuldades enfrentadas no país são exploradas de forma bastante didática e artificial, mas as boas atuações fazem com que seja suficientemente agradável passar o tempo com esses personagens. É um filme feito especialmente para pessoas que gostam de balançar a cabeça em aprovação perante ilustrações óbvias de coisas que elas já estão carecas de saber.

**1/2 – balanços de cabeça