Por que deveria escrever sobre um livro que saiu anos atrás? Por que tentar encontrar uma mínima diferença entre a minha análise e a de outros pares simplesmente para receber uns cliques, likes e compartilhamentos a mais? Analisar listas e mais listas de nomes de diretores de filmes de terror, talvez um simples fetiche do autor em enumerar suas referências, apenas para mostrar que ele e eu temos uma cumplicidade de gostos? Ou apontar falhas nessas listas e citar diversos outros nomes esquecidos pelo autor, ou pela sua personagem, para sugerir uma análise profunda?

Encontrar nas descrições sobre a São Paulo que tanto conheço uma camada semiótica para o que é narrado no livro? Aquela festa maldita de diversas pistas de dança e luzes multicoloridas facilmente reconhecível? Quem sabe, quem sabe mesmo, falar sobre ocultismo e bandas de heavy metal criando um paralelo com qualquer banda maquiada da Finlândia? Explicar de maneira subjetiva o porquê de o livro ser separado entre a noite e o dia, entre terceira e primeira pessoa? Sobre a dualidade dos narradores e o que descrevem? Escrever sobre traumas de infância, terrores noturnos e sonambulismo?

Ou, vá lá, escrever um texto metalinguístico cheio de perguntas para parecer a ideia mais genial, quando, na verdade, seria a primeira opção a passar na cabeça de qualquer resenhista?

Seria esse livro As perguntas uma mera sátira aos contos e fábulas de assombrações, almas penadas, ou levemente inspirado em filmes de terror orientais sul-coreanos e japoneses, em que encostos espreitam suas vítimas para passar uma mensagem do além ou por simples egoísmo quererem a companhia de um mero “ser vivo”?

Talvez eu devesse começar pelas respostas.

Antes, é claro, um trecho onírico meu feito para abrir esse post, mas decidi deixar para o meio e quebrar a sequência de perguntas:

Uma das motrizes do ser humano são as respostas. Esse misto de curiosidade e busca começa logo cedo, para entender por que diabos o céu é azul, por que bebês nascem, por que todo mundo falava de Iluminismo e Iluminatti. Nem tudo vem com uma simples sentença, uma explicação óbvia ou não nos faz questionar mais ainda, e ao nos depararmos com o que procuramos, não nos sentimos satisfeitos – ainda mais se imposto, “é assim e ponto”. É muito comum esse azedume de incompletude nos pegar, e, por isso, acredito que não estamos fazendo as perguntas certas, e um número certo de respostas não vai acabar com isso. Uma pergunta leva a uma resposta, que leva a outra pergunta, que leva a outra pergunta. Não quero que paremos de receber respostas, mas que continuemos a perguntar até encontrar aquela interrogação precisa, necessária, satisfatória.

É um livro bom? Sim. Vai mudar a tua vida? Depende o quanto você já leu na vida. Vou ficar com medo? Depende do que você tem medo. Preciso de algum background para tornar a leitura mais interessante? Se a leitura não é interessante por si só, a história seria ruim.

As perguntas é um mergulho no existencialismo, não é uma busca por religião, sobre exorcismo. É puramente existencialismo. Perguntas nascidas de um trauma. A questão é: de onde vem esse trauma? O que estava adormecido para do nada eu começar a pensar na minha existência?

Eu diria que é um livro sobre luto tardio, sobre questionar no que se acredita até perder. Quando se perde para a vida, o que nos resta é questionar a vida e por que ela é tão fria ao querer tirar algo de nós. O luto mexe com os sentimentos da personagem principal, em um misto de thriller detetivesco tupiniquim com brincadeiras da imaginação. Aqui as dúvidas, os questionamentos são as sombras. E apenas abraçando as sombras chegaremos às respostas?

O medo no romance não é do sobrenatural. O medo aqui é de nunca encontrar as respostas.