Há algum tempo atrás eu escrevi aqui no Meia sobre um livro de Haruki Murakami, chamado ‘What I talk about when I talk about running: a memoir’. Eis que agora a Editora Alfaguara (do grupo Objetiva) o lança no Brasil sob o título ‘Do que eu falo quando eu falo de corrida: um relato pessoal’, traduzido do inglês por Cássio de Arantes Leite.
Como eu já havia dito, o livro é uma compilação de reflexões e de anotações de Murakami selecionadas por ele mesmo, de seus cadernos de corrida. Cria-se então algo bastante pessoal, tem-se a sensação quase que de uma conversa informal em que Murakami conta ao seu leitor não apenas sobre sua experiência em corridas, mas também sobre como isso afeta sua atividade literária.
O livro não se limita a falar sobre essa relação, no entanto. Murakami incluiu alguns relatos bastante interessantes sobre algumas maratonas- de como foi a sensação de falhar em alguns deles, inclusive- e de desafios auto-impostos, como quando decidiu fazer o trajeto da maratona lendária, por conta própria.
Quanto à tradução, está boa, mantendo o tom de conversa- apesar de eu geralmente achar que as versões em português das obras de Murakami tornam-se um tanto quanto pomposas ou formais demais, perdendo parte da coloquialidade que marca o estilo do autor nos originais em japonês e nas versões em inglês.
O fato, aliás, de o livro ter sido traduzido do inglês e não diretamente do japonês não chega a ser um problema: Murakami é amigo de Philip Gabriel, seu tradutor nos EUA, e o ajuda e supervisiona nas traduções, o que garante que mesmo longe de sua língua original os textos continuem carregando as intenções e marcas do autor.
Enfim, como eu já havia dito antes, é um livro excelente, essencial para fãs de Murakami ou para corredores- amadores ou não.
Do que eu falo quando eu falo de corrida
Autor: Haruki Murakami
Tradutor: Cássio de Arantes Leite
Editora: Alfaguara
Preço: R$ 29,90
Páginas: 150
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Saiba mais sobre essa e outras obras no site da Editora Objetiva
Independente de quem traduziu para o inglês, há uma perda na tradução para o português.
No meu caso, prefiro comprar a versão em inglês do que comprar uma retradução.
Acho esse tipo de coisa um absurdo.
Esse livro do Murakami que tem sido meu melhor companheiro desde ontem (após uns dias de ansiedade que passei antes de tê-lo em mãos). Poderia lê-lo em algumas horas, mas tenho tentando ao máximo prolongar esse tempo. Isso porque encontrei em suas palavras uma identificação tão grande, algo que já não pensava mais poder encontrar. Explico: sou corredora desde 2006, e apaixonada por livros desde que aprendi a ler. Minhas duas paixões, corrida e livros. Desde então senti minha personalidade ficar um tanto quanto fragmentada (não que não fosse antes) por causa desses mundos tão diferentes. O lado físico e o lado intelectual. Como Murakami, nunca fui excelente nos esportes quando criança e também nunca dei muito valor a isso. Sempre fui mais aérea, no mundo da lua e rodeada de palavras. Com a corrida eu me descobri feita de músculos, carne e fluidos. E aprendi a conviver a apreciar isso. Apreciar a dor do esforço também. Isso me tira daquele viver meio etéreo de quem ama literatura e me faz sentir um outro tipo de vida que não é menos sensível por ser aparentemente mais bruto. Estou encantada. E você, Luciano, corre?
Corro sim, Nathalia. Eu comecei a correr pouco antes de comprar a edição norte-americana do livro e, se não desisti de correr (eu não sou uma pessoa muito talhada para atividades físicas e sou um tanto preguiçoso) foi justamente por causa do Murakami.
Poxa, que bacana, você poderia ter colocado isso na resenha. Adorei o fato de achar uma resenha sobre esse livro aqui, mas achei que você poderia ter instigado mais o leitor (corredores, não-corredores e romancistas, rs) a querer lê-lo, acho que você poderia ter citado isso, Luciano 🙂
É que essa é a segunda vez que eu resenhei esse livro aqui no Meia, na verdade. A primeira vez eu tinha lido a edição em inglês- essa segunda foi mais para falar sobre o lançamento nacional e aproveitei comentar um pouco da tradução. O primeiro artigo está aqui, ó: http://meiapalavra.mtv.uol.com.br/2010/01/05/sobre-correr-e-escrever/