Algum tempo atrás eu li ‘Dentes Guardados’, de Daniel Galera. Eu reconheci algum potencial mas não gostei. Preocupado demais com sexo, parecia preocupado demais em ser ‘cool’ e preocupado de menos com tudo mais. Sim, existem alguns contos geniais, mas a média do livro me pareceu exatamente isso: média.

Aí quando um amigo- o mesmo que insistiu para que eu lesse Cuenca- me falou que o Galera era bom, eu fiquei um pouco desconfiado. Mas como ele já tinha me surpreendido uma vez e estava disposto a me emprestar esse livro- de cujo primeiro capítulo, ‘O Ciclista Urbano’, ele havia me falado maravilhas- resolvi encarar.

E, realmente, Galera é mui melhor romancista do que contista. Ou, pelo menos, se mostra muito mais maduro em ‘Mãos de Cavalo’ do que em ‘Dentes Guardados’.

A obra acontece em três tempos, intercalados: um garoto que cai de bicicleta, um adolescente que arranja encrenca com o valentão do bairro e um cirurgião plástico que prepara-se para ir escalar uma montanha nunca antes conquistada, na Bolívia.

O modo como as três histórias díspares são costuradas é bastante sutil, mas efetivo. Pouco a pouco pode-se tecer suspeitas a respeito da trama e descobrir, através de indicações veladas, a relação entre elas. E essas suspeitas só são confirmadas (ou não) no final do livro, sem, no entanto, que se explicite a alma da obra.

Culpa, insegurança e remorso são os temas da obra, apresentados, porém, de um modo leve, praticamente anestésico e até mesmo um tanto quanto divertido. Isso tudo porque, por mais que possamos perceber os sentimentos dos personagens, em momento algum somos levados a sentir com eles. Afinal, mesmo que sentimentos sejam a tônica da coisa toda, em momento algum Galera deixou-se levar pela pieguice.

Talvez não seja uma obra-prima, mas com certeza é um bom livro, que se torna ainda melhor se o leitor entender as inúmeras referências a coisas como Metroid e os Comandos em Ação.

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