Analisar poesias é possível? Com conhecimento de escolas, métrica e de autores provavelmente é uma tarefa mais fácil para comparar, encontrar referências ou homenagens. Como toda obra que se analisa, crítica ou resenha, a poesia é de fato uma das mais intrigantes, pois não requer somente a leitura silenciosa como também a em voz alta para dar uma melhor entonação em estrofes, versos, rimas e fonética – essa última é essencial para não ficar com cara de interrogação (ainda mais se tratanto de haikais).

O gaucho Israel Mendes em seu primeiro livro, Menino Perplexo, lançado pela editora porto-alegrense Dublinense, consegue tratar a poesia em suas facetas mais variadas. Trabalhando não apenas com a rima ou fonética, mas também com a estética das estrofes e suas posições em cada página dando um charme maior para quem folhear em uma livraria.

O atrativo desse pequeno livro são os temas complicados da infância tratados com um ar inocente que flerta com a ironia. Descobrir como as crianças nascem, o som das coisas com onomatopéias ou a alvorada. Há o amadurecimento com poesias sobre luxúria e ganância, sobre enganação e sobre lembranças, todas mesclando rimas fáceis com outras mais harmônicas.

É necessário sentar-se e levantar-se inúmeras vezes com essa obra na mão, por mais rápido que se consiga ler, algumas das poesias contidas deixarão o leitor com um sentimento de saudade ou falsa lembrança – que é o sentimento que toda boa poesia aplica. Para um livro de estreia, Mendes está de parabéns. Contudo, seu maior trunfo é saber uma obra reverenciando a língua em que escreve, reconhecendo que sem ela suas possibilidades seriam insossas e limitadas.