Neil Gaiman foi um dos maiores autores de quadrinhos dos anos 1990, com sua aclamada obra-prima Sandman. Com um sucesso mais do que merecido, o autor começou a dedicar-se também à escritura de romances e contos. O primeiro foi ‘Belas Maldições‘, em pareceria com Terry Pratchet- autor da série Discworld- ao qual seguiu-se a adaptação dos roteiros da série televisiva Neverwhere (que haviam sido escritos pelo próprio Gaiman).

Mas foi a partir de 2001, com Deuses Americanos, que Gaiman lançou-se de vez na literatura (ok, não vou entrar na discussão sobre quadrinhos serem ou não literatura, mas combinemos que, nesse post, quadrinhos são quadrinhos e literatura designa obras em prosa e/ou poesia). Um começo genial- cuja sequência, infelizmente, não ficou à altura.

Em Deuses Americanos, Gaiman nos apresenta Shadow, um homem que acaba de sair da prisão e que só quer voltar à viver ao lado de sua esposa e deixar certas partes do passado para trás. Infelizmente as coisas não são tão simples: poucos dias antes Laura havia morrido em um acidente de carro, que aconteceu por ela estar praticando sexo oral em Robbie, amigo de Shadow que supostamente lhe arranjaria um emprego.

Viúvo, sem emprego e um tanto quanto desiludido, Shadow não tem motivos para recusar o emprego de guarda-costas que um misterioso sr. Wednesday tem para lhe oferecer. Juntos começam a viajar pelos Estados Unidos visitando-e recrutando- uma série de conhecidos do sr. Wednesday.

E é a partir daí que as coisas começam a ficar interessantes: muitos desses conhecidos são deuses ou outras criaturas míticas que vieram da Europa junto com os imigrantes. O próprio sr. Wednesday revela-se como Wotan (ou Odin), a principal divindade do panteão nórdico/germânico.

Em meio a aparições de Laura e encontros mais do que bizarros com deuses derivados das mais diferentes histórias e crenças que constituíram a formação étnica dos EUA, Shadow enfia-se em uma guerra entre esses deuses antigos e deuses novos- representando os valores do mundo capitalista.

Uma história bastante cativante e cheia de personagens intrigantes, Deuses Americanos tem elementos diversos, construindo um universo narrativo bastante complexo- violência, fé e até mesmo uma importante carga de erotismo misturam-se de forma que oscila entre o sutil e o grotesco.

Obra essencial para fãs de Gaiman e de literatura fantástica em geral, Deuses Americanos é uma sequência mais do que justa para a carreira do homem que escreveu Sandman.

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