Um homem fala sobre os filmes pornográficos de vanguarda dos quais sua mãe participou- incluse enquanto estava grávida dele. Um exilado chileno vivendo no underground homossexual indiano. Um homem relatando como é estar morto e que, depois da morte, sofre abuso sexual por Jean Claude-Villaneuve. Arturo Belano na África, de certa forma seguindo os passos de Rimbaud.

Quem conhece o universo do escritor chileno e hype literário atual Roberto Bolanõ certamente indentificou alguns dos elementos ou, pelo menos, temas. Em Putas Assassinas, coletânea de contos lançada no Brasil pela Companhia das Letras em 2008, temos 13 contos que variam do estranho ao mais estranho ainda, sem deixar de lado o sexo, a violência e a literatura.

A literatura, aliás, é o tema central da obra- mesmo que não pareça. Todas as esquisitices e vanguardas pornográficas e todos os mistérios policialescos não passam de metáforas para a atividade que serve de tema principal para Bolaño. Trata-se, em suma, de história sobre escrever, mas nas quais quase não se escreve.

E esse é o principal trunfo de Bolaño: falar de uma infinidade de coisas, sempre se referindo a um mesmo assunto, no final. Não que a literatura seja o único tema do livro. É bastante óbvio que suas experiências de exilado, de refugiado foram, de uma maneira artística e distorcida, repassadas para o livro.

Bolaño é chileno, mas viveu a maior parte da sua vida fora do Chile- tirando a infância, só viveu lá durante o curto período em que Allende governou e logo depois, quando esteve preso. Antes e depois disso, México, França e Espanha foram seus destinos- e de seus personagens. E essa relação de saudade e ódio transparece em seus contos.

Putas Assassinas não é o melhor dos livros de Bolaño, mas é um dos mais representativos. Em doses cavalares ou homeopáticas todos os elementos que tornam sua obra singular e tão celebrada estão presentes.

Putas Assassinas

Roberto Bolaño

Tradução: Eduardo Brandão

224 páginas

Preço sugerido: R$ 39,50

Saiba mais sobre essa e outras obras no site da Companhia das Letras

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