Um dos muitos trabalhos que o autor de Uma solidão ruidosa, o tcheco Bohumil Hrabal, teve foi o de prensador de papel usado. Diferentemente do protagonista da novela, porém, esse não foi o único emprego de Hrabal durante a vida.

Na história, que se passa ainda antes do fim do comunismo na Tchecoslováquia, Haňt’a trabalha há 35 anos compactando papel velho com o auxílio de uma prensa mecânica. Durante todo esse tempo ele cumpriu esse trabalho com uma lentidão resignada, que lhe permitia vasculhar entre o material que deveria destruir e encontrar livros que a censura do regime decidira dar cabo. Foi assim que teve o que chama de sua educação inconsciente.

O que temos é basicamente um longo monólogo interior, cheio de digressões e lembranças. Haňt’a declara seu amor à sua prensa e aos livros- levou cerca de 2 toneladas de livros raros para casa, salvando-os de serem destruídos. Mas não é apenas isso: ele recorda também sua jovem e bela cigana sem nome, seu inspirador tio e até mesmo sua musa perdida, ‘Mančinka merdeira’.

Hrabal foi um dos maiores autores de língua tcheca do século XX. Seu gosto por obras curtas e por frases longas- um de seus livros, Taneční hodiny pro starší a pokročilé (algo como Aulas de dança para pessoas idosas), é formado por apenas uma única sentença. Evoca a cidade de Praga de modo ímpar, e critica o regime imposto pelos soviéticos ao seu país de modo impiedoso- a primeira edição tcheca de Uma solidão ruidosa, juntamente com a maior parte de sua obra, foi publicada de modo clandestino.

Não é apenas isso que ele ataca, porém. A melancolia e superficialidade da condição humana no mundo contemporâneo são uma constante, assim como a brutalidade do mundo industrializado.

Tudo isso, porém, sem expressar raiva. Em Uma solidão ruidosa o tom predominante é a tristeza, o que não impede o livro de ser permeado de um humor ao mesmo tempo ácido e ingênuo.

 

Uma solidão ruidosa

Bohumil Hrabal, traduzido da edição inglesa por Bruno Gomide.

Companhia das Letras

112 páginas

R$ 35,00

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