The tales of the Jazz Age possuem uma edição brasileira bastante interessante, com contos extras, que mistura os seis contos presentes na coletânea original com outros contos publicados por Fitzgerald na época em jornais e revistas como The Metropolitan, Saturday Evening Post, Vanity Fair e outros. A edição da José Olympio tem capa azul e aquelas letras altas, esguias e finórias, que parecem traduzir parte do sentimento banhado de eflúvios da Belle Époque e dado a extravagâncias dos “loucos anos 20”.

O conto que abre a coletânea, O boa vida, apresenta um típico jovem norte-americano da década de 20 (ou pelo menos o estereótipo clássico que estampava as propagandas e as capas de revistas), Jim Powell, que abusa do hedonismo e alterna sua vida em preocupações com frivolidades, bailes dançantes e moçoilas para paquerar. Se por um lado essa parece uma história cafona e fútil, por outro mostra como o sentimento que transparecia no conto era um dos passos para a quebra de posturas moralistas, se relacionando inclusive ao desapego, ainda que tímido em vários momentos, da postura doméstica e cordata da mulher.

As costas do camelo, segundo conto da coletânea, traz uma história bastante engraçada sobre as andanças e bailados dos constantemente festivos (e embriagados) personagens de Fitzgerald. Perry Parkhurst usa de diversas artimanhas e da ajuda de colegas seus para conseguir levar a cabo uma armação que visa levar a meio-cândida, meio-femme fatale (como boa parte das personagens femininas de Fitzgerald) Betty Medill a se casar com ele. Uma trama bem construída, enxuta e engraçada.

O conto O curioso caso de Benjamim Button ficou bastante conhecido por conta da adaptação cinematográfica recente e conta a história do rapaz que nasce velho e vai rejuvenescendo ao longo da vida. Boa parte da história contada se dá em torno do par romântico do pitoresco sujeito, Hildegarde Moncrief. O casal vive as intempéries da peculiar situação de se encontrarem etariamente no meio da vida e se separarem (em “direções” diferentes) com o passar do tempo. Um dos pontos altos do livro.

Há uma passagem nesse conto, aliás, que parece resumir de maneira bastante interessante uma das contradições da Era do Jazz:

“Seria grotesco contradizer uma dama; seria criminoso estragar uma ocasião tão encantadora com a grotesca história da sua origem.” (p. 125)

Fitzgerald empregou essa frase para referir-se a indecisão de Button quanto a revelar à dama, Hildegarde, sobre sua inusitada condição de contra-envelhecimento, quando de um baile em que os dois se entregavam a uma dança. Talvez soasse grotesco também reconhecer os efeitos bastante preocupantes sobre a mentalidade estreita que se estabelecia com a nova dinâmica da sociedade norte-americana na década de 20, como bem demonstrou Gramsci no célebre texto Americanismo e Fordismo.

O dinheiro que toldava os pensamentos semi-pragmáticos práticos e gananciosos era o mesmo que comprava clandestinamente as bebidas, bancava as roupas, os excessos, as excentricidades e, em alguma medida, as condições que elevaram Fitzgerald a posição que veio a ocupar e que posteriormente assinalaram sua ruína.

Aquele baile suntuoso que embalou a geração perdida (e de maneira especial Francis Scott Fitzgerald) tinha raízes (e conseqüências) bastante sérias e profundas, mas não “seria criminoso estragar uma ocasião tão encantadora com a grotesca história de sua origem”?

FITZGERALD, F. Scott. Seis contos da era do jazz e outra histórias. 7ª ed. Tradução de Brenno Silveira. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009.