Para Vieltcháninov, protagonista de O eterno marido – de Dostoiévski -, o termo que empresta seu nome ao romance significa nada mais nada menos do que a espécie de homem que nasce unicamente para casar-se e, uma vez casado, é apenas para ser parte complementar de sua esposa que ele existe.

Enxergando essa classe de homens com certa quantia de desprezo, Vieltcháninov nunca foi muito simpático em suas considerações acerca de Páviel Pávlovitch Trusótski. Ao senhor Trusótski não apenas cabe perfeitamente a definição de eterno marido, mas também sofre com o ônus de ser o viúvo de Natália Vassílievna – que, anos antes, fora amante de Vieltcháninov.

A bem da verdade, Trusótski estaria esquecido e enterrado para Vieltcháninov – que, após ter sido largado por Natália, abandonara a pequena cidade em que vivera durante seu caso amoroso com ela. Mas Trusótski vai a Petersburgo tratar de negócios e os dois se reencontram.

Junto consigo, Páviel leva sua filha, Lisa. A menina, no entanto, sofre imensamente: seu pai tornou-se, desde a viuvez da mãe, um bêbado cruel e, se antes ela se sentia amada e protegida por ele, agora os sentimentos começam a ficar mais confusos e menos confortadores.

Isso perturba profundamente Vieltcháninov: fazendo as contas dos anos e olhando para a menina, ele tem certeza de que ela é, na verdade, sua filha. Difícil, porém, ter certeza.

Aliás, certezas são coisas que ficam suspensas até o desenlace de toda a história, que envolve o surgimento de uma amizade um tanto quanto estranha entre os dois homens. Ao mesmo tempo em que parecem odiar-se e temer-se, comportam-se como antigos amigos, quase que confidentes que acreditam, porém, manter seus segredos longe um do outro.

O livro é uma reflexão sobre a natureza humana, entrando em méritos psicológicos e emocionais, sem parecer ingênuo e nem romântico demais. É, antes, um relato doloroso sobre como as coisas não dão certo no final, sobre como o tempo não cura, sobre como o amor não salva.

O eterno marido

de Fiódor Mikhailovitch Dostoiévski,

tradução de Natália Nunes e Oscar Mendes.

176 páginas.

R$ 14,00.

 

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