A juventude é, talvez, a parte da vida em que as pessoas mais conscientemente sentem estarem vivas. A vida é uma força aparentemente inesgotável. Tanto que já é parte do senso comum falar sobre como os jovens costumam se sentir invencíveis, intocáveis. Como se a morte não fosse nada além de um sonho ruim, que não cabe a eles sonhar.

É claro que nem sempre as coisas são assim. Pessoas jovens também morrem. Muitas vezes, aliás, acabam com a própria vida. É mais ou menos assim que começa Norwegian Wood, uma das principais obras do japonês Haruki Murakami: Kizuki, um jovem de 19 anos, se suicida, deixando para trás seu melhor amigo, Toru Watanabe, e sua namorada, Naoko.

Mais ou menos um ano depois disso, em 1969, Watanabe e Naoko se encontram nas ruas de Tóquio e acabam por iniciar uma relação bastante confusa. Afinal, nunca antes conversaram direito, não se conheciam – costumavam sair juntos por conta da vívida presença de Kizuki. Agora uniram-se por conta do mesmo Kizuki, quase que como um fantasma. Ao mesmo tempo em que isso acontece, Toru – que narra toda a história de uma distância de muitos anos – inicia sua vida independente, começando a cursar a faculdade de teatro e viver em um alojamento de estudantes.

Toru e Naoko passam a se ver com frequência, até que, no aniversário de 20 anos da garota, eles fazem sexo – descrito de uma das maneiras mais bonitas e tristes que eu já li. A partir daí as coisas começam a piorar: ela sofre uma espécie de colapso nervoso e vai parar em um tipo de casa de recuperação no meio das montanhas, e ele sente necessitar cada vez mais dela, ao mesmo tempo em que conhece Midori.

Midori frequenta uma aula em comum com Toru, e logo tornam-se amigos. Seus modos explosivos e provocantes contrastam com os de Naoko, de modo que Toru envolve-se com as duas ao mesmo tempo. Ele é, porém, bastante rígido em sua moral – o que cria uma crescente tensão sexual.

O sexo, aliás, é um dos pontos centrais da obra. É realizado de diferentes maneiras e por diferentes motivos, podendo ter resultados diversos. Pode sim trazer prazer e contentamento, mas, muito mais facilmente, parece trazer arrependimento e dor.

Eu comecei o texto falando sobre juventude. Pois é sobre ela que o livro trata. Mais especificamente sobre seus possíveis finais, por mais terríveis ou ingênuos que possa parecer imaginá-los.