De certa forma, ler Formas Breves, do argentino Ricardo Piglia, foi uma decepção. Eu já tinha lido um dos textos do livro, “Teses sobre o conto”, e esperava que o tom fosse mais ou menos o mesmo: teoria literária bem escrita, com exemplos inteligentes e racionais. Não foi isso que eu encontrei, mas algo ainda mais interessante: a decepção, no caso, assumiu contornos positivos.

Antes de ser um manual teórico, Formas Breves é um apanhado de ensaios sobre literatura e de entradas de diário. Piglia, por duas vezes (com o já citado “Teses sobre o conto” e com o texto que se segue, “Novas teses sobre o conto”), entra no terreno crítico-teórico um pouco mais a fundo, mas na maior parte do tempo esse tipo de reflexão é relegada a segundo plano, e o que sobrevém é algo estritamente pessoal – a relação do próprio Piglia, como leitor e como autor, com a literatura.

Mas não com a literatura de maneira geral, e nem com uma literatura de natureza impalpável, etérea. O objeto de Piglia em Formas Breves é bem definível: é a literatura argentina, com Jorge Luís Borges e Macedonio Fernandez ocupando lugares de destaque, bem como o polaco Witold Gombrowicz – que viveu no país de Piglia por um grande período de sua vida. Cabe lembrar que destaque e centralidade não necessariamente são sinônimos.

O livro, porém, não se limita aos argentinos e ao mau espanhol de um aristocrata polaco exilado. Piglia escreve, também, sobre James Joyce, sobre Edgar Allan Poe e sobre Kafka. Menciona ainda Tchekov e Hemingway.

No fim, porém, o assunto do livro não é outro se não o escritor argentino Ricardo Piglia. Encarado, através de suas influências, pelo escritor – e, sobretudo, leitor – argentino Ricardo Piglia.

Formas Breves

de Ricardo Piglia,

tradução de José Marcos Mariani de Macedo.

120 páginas.

R$ 37,50.

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